Como a China se desenvolveu tão rapidamente?

Por Leon Ayres – janeiro/2023

Minha curiosidade histórica sobre a China

Desde cedo a China me despertou muita curiosidade. No início, olhava para ela com um olhar místico, como um aprendiz que sonhava encontrar um monge no alto da montanha, que me ensinaria como seria o universo e nosso papel nele.

Durante certo período da adolescência as artes marciais chinesas me despertaram para tentar aplacar uma necessidade ingênua: fazer coisas difíceis, ou quase impossíveis. Não cheguei a este ponto, mas foi divertido. Longe de ter alcançado alguma virtuosidade, pelo menos imaginei que ficaria mais protegido e protetor. Não é verdade, mas fiquei satisfeito em achar. Pelo menos, fiquei um pouco mais confiante.

Minha mãe, que também acreditava em reencarnação (acreditava em todas as religiões, mesmo que tivessem contradições entre elas), havia consultado um médium que afirmara que eu já tinha sido um chinês. Achei pitoresco, mas não me encantei com esta história.



Dado o meu interesse, quase que vital, sobre o universo, resolvi aprender um pouco sobre o Taoísmo. Fui à Federação Taoíosta para beber na fonte. Esperava encontrar alguém com a aparência semelhante ao filósofo Lao Tsé, mas, para minha surpresa, quem veio conversar e me orientar sobre o assunto foi um chinês muito jovem cujos cabelos iam até a cintura. Uma das pessoas mais inteligentes que conheci. Aprendi um pouco e continuo pensando diariamente sobre o Tao. É muito difícil entender o caminho, a sua construção e a busca pelo inalcançável. Mas continuo tentando.

Na minha militância política conheci algumas pessoas que se diziam maoístas. Fiquei impressionado com as suas discussões, mas não me identifiquei politicamente. Critiquei muito a visão deles sobre a construção do setor primário da economia. Achava que esta política não iria muito longe, pois sem o setor secundário não haveria o desenvolvimento necessário para gerar tecnologias e riquezas do mundo moderno.  Depois critiquei o período de desenvolvimento do setor secundário que seria realizado através das parcerias de joint ventures (empreendimentos conjuntos) com empresas multinacionais, principalmente na Manchúria, região localizada no nordeste da China. Eu estava errado…

A China é um dos maiores casos de sucesso da humanidade, mas o motivo do seu desenvolvimento ainda está para ser compreendido, pois, no ocidente, não temos paradigmas amadurecidos o suficiente para analisá-la.

A vida é feita de encontros

O que me inspirou a escrever este texto foi um artigo (que eu recomendo) do professor Elias Jabbour em conjunto com o professor Luiz Fernando de Paula, intitulado “A China e a “socialização do investimento”: uma abordagem Keynes-Gerschenkron-Rangel-Hirschman, publicado pela Revista de Economia Contemporânea.

Prof. Elias Jabbour

Eilas Jabbour é Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da UERJ. Ele é um dos maiores especialistas sobre o processo de desenvolvimento da China. E Luiz Fernando de Paula é professor Titular da FCE/UERJ e do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da UERJ e pesquisador do CNPq.

Estou na porta de entrada, antes do vestíbulo, tentando aprender mais sobre como se deu o desenvolvimento vertiginoso e singular da China nos últimos 50 anos.

Aprendi um pouco, não paro de pensar sobre o assunto e por isso resolvi escrever este texto, pois cada vez que eu escrevo imagino ou finjo conhecer mais sobre o assunto. Não imagino que serei fiel ao artigo, pois reconheço as minhas limitações nas análises econômicas. Mas fiquei empolgado.

Espero ser útil àqueles que se interessam pelo assunto, mas, como eu, não têm um conhecimento técnico aprofundado. Se você achar que está faltando muita coisa no meu texto, então estaremos juntos nas dúvidas e pesquisas.

O desenvolvimento econômico

O capitalismo começou a se estruturar em 1800, logo após a Revolução Francesa, que foi um movimento político insurrecional popular aliado aos interesses de uma burguesia que começava a consolidar seu espaço político-econômico. Ou seja, há mais de 200 anos atrás.

Alguns países se desenvolveram bastante durante este período, notadamente a Alemanha, França, Inglaterra e Estados Unidos da América. Claro que outros acompanharam este desenvolvimento, mas poderíamos dizer que os primeiros ficaram no topo da “cadeia alimentar”.

A China se tornará a maior potência econômica do mundo até o final desta década. Mas como ela conseguiu se desenvolver em pouco mais de 50 anos? Qual modelo eles utilizaram para conseguir este resultado tão rapidamente?

Há, na atualidade, dois modelos de desenvolvimento que se contrapõem: o ortodoxo e o heterodoxo. Existe uma grande diferença entre estes modelo: o mecanismo básico do desenvolvimento.

No modelo ortodoxo o desenvolvimento é realizado espontaneamente pelo mercado, principalmente o financeiro que é considerado o grande investidor. Se o mercado estiver forte, ele investirá, criará empregos, gerando renda, lucratividade e progresso. A iniciativa privada tem um papel de maior relevância do que o Estado: “mais empresas no Estado e menos Estado nas empresas”.

No heterodoxo, o Estado tem o papel de regular a dinâmica de desenvolvimento a partir das políticas públicas. O processo é alavancado pelo aumento do emprego e renda, que propiciará as vendas de produtos no comércio, que vai adquirir da indústria, que comprará dos fornecedores de matérias primas. Segundo vários economistas, este é o modelo que propicia um desenvolvimento mais rápido.

Meu objetivo não é a análise das opções político-ideológicas de governos, mas a observação dos dois modelos tradicionais de desenvolvimento econômico.

O modelo ortodoxo

Um destes modelos é o que muitos denominam atualmente como o “Consenso de Washington”.

“Tem como base a ideologia neoliberal a partir dos EUA e do Reino Unido que se difunde no mundo a partir de uma agenda de reformas liberais, voltadas para economias emergentes (desregulamentação dos mercados, redução do papel do Estado, privatização, abertura financeira etc.) e difundidas por instituições multilaterais, como Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Banco Mundial. Para uma avaliação do Consenso de Washington, ver, entre outros, Stiglitz (1999) e Williamson (2000)”. (Citação de Elias Jabbour).

Este modelo tem uma visão que baseia-se na combinação de atuações do capital (nacional e estrangeiro) em privatizações e desregulamentação do mercado. É um dos modelos adotados em alguns governos no Brasil. Fortalece o mercado financeiro que dita as políticas, inclusive para os setores industriais e de serviços. O setor agropecuário é influenciado pelo mercado financeiro, mas nem tanto, devido à sua capacidade de escalabilidade de produção e exportação.

O desenvolvimento privilegia os setores detentores do capital. No Brasil estes setores detêm cerca de 95% do capital nacional, enquanto o resto da população fica com apenas 5%. É o modelo preferido do mercado financeiro.

O modelo heterodoxo

O modelo heterodoxo, também denominado desenvolvimentista, tem a percepção do papel do Estado como agente principal do processo de desenvolvimento. Foi adotado no Brasil entre 1930 e 1961 e nos governos recentes da socialdemocracia. Avançou, mas não passou do primeiro ciclo de transferência de renda.

O economista John Maynard Keynes, uma das grandes referências teóricas sobre o desenvolvimento capitalista, ressalta os diferentes aspectos da relação Estado e mercado e suas complementaridades. Para Keynes o Estado é responsável, indutor e às vezes regulador do desenvolvimento econômico.

Na China o modelo heterodoxo utiliza o método histórico-dedutivo. A ideia é criar diversos ciclos econômicos que se modificam ao longo do tempo para atender as necessidades do momento, no processo mais geral de desenvolvimento. Cada ciclo cumpre suas finalidades táticas dentro de um contexto estratégico de desenvolvimento. O Estado atua, não somente no nível do controle da indústria e das finanças, mas também como grande investidor.

A China e os ciclos de desenvolvimento

Um sistema planejado e gradual

O modelo de desenvolvimento na China se dá de forma gradual e planejada. Este gradualismo planeja e analisa cada ciclo de desenvolvimento. Desta forma permite-se que o próximo ciclo tenha como base o resultado do anterior. Assim, há como ajustar cada ciclo em função dos erros e acertos do ciclo anterior. O papel do planejamento, em suas diferentes formas, é amplo e em sintonia com a evolução institucional do Estado e do mercado.

O modelo adotado pela China tem seus aspectos cartesianos de condução dos projetos: análise, planejamento, execução e controle de qualidade. Utiliza-se como filosofia o controle dos ciclos dos projetos e instituições, através da definição do espaço político com a liberdade e a capacidade de o governo identificar e buscar a combinação mais apropriada de políticas econômicas e sociais para alcançar um desenvolvimento equitativo e sustentável que seja mais adequado ao seu contexto nacional específico.

Em cada um destes ciclos mudam-se as instituições e o seu caráter. Muda-se o papel do mercado e do setor privado segundo necessidades do planejamento e investimento. Há uma noção de complementaridade entre o os dois.

Evitando o processo predatório no desenvolvimento

O Estado tem um papel de guiar o desenvolvimento evitando a disputa predatória do mercado desregulado e das injunções políticas conjunturais. Não é incomum, nos modelos de desenvolvimento do capitalismo ocidental, o crescimento conduzido pela lei do mais forte. Quem é mais forte devora o mais fraco. Há pouco espaço para os empreendimentos dos pequenos e médios, que são a maioria em quantidade e empregabilidade. Quem toma conta das galinhas são as raposas. Na China isto é resolvido pela regulação e complementariedade entre Estado e o mercado.

Esta complementaridade também visa garantir os investimentos para o consumo da população e evitar que o Estado possa ser um substituto do setor privado e do próprio mercado. O Estado passa a ser empreendedor e investidor, em atendimento às necessidades da população chinesa em cooperação com a iniciativa privada. Tudo isso mediado por um complexo sistema financeiro.

O papel do sistema financeiro

Um sistema financeiro não alinhado com as necessidades produtivas gera lucros para si sem contrapartida de geração de riquezas e desenvolvimento nacional. Regular o mercado financeiro não é exclusividade chinesa. Acontece o mesmo na Alemanha e Polônia, por exemplo, onde os tipos de governos diferem-se entre si e da própria China. Na Alemanha os investimentos do sistema financeiro obrigatoriamente são direcionados para as aptidões locais. Os orçamentos e investimentos são decididos no nível municipal.

Em um município onde, por exemplo, as aptidões são a cultura de uvas e a fabricação de vinhos, o sistema financeiro tem que priorizar os investimentos nesta atividade. Todos ganham. O sistema financeiro não se enriquece da noite para o dia, mas garantem-se os projetos de médio e longo prazo. Seja de direita, de centro ou de esquerda, os governos não conseguem mudar esta estruturação de planejamento e investimentos.

O ciclo da abertura econômica

A partir de 1970 a China iniciou um processo de abertura econômica através da relação entre o Estado, mercado, iniciativa privada e sistema financeiro, através da centralização do grande capital em torno de cerca de 50 empresas estatais. As empresas estatais são garantidoras da produção (seja qual for o momento econômico) e balizadoras dos preços dos produtos e serviços.

Empresas privadas e públicas produzem serviços e produtos para responder às demandas da população. As empresas públicas servem para que o Estado avalie quais são os reais custos e benefícios operacionais das empresas estatais e privadas.

Em São Paulo, por exemplo, em determinado momento, as empresas públicas de transporte não tinham a responsabilidade de dar resposta a todas as demandas da população, mas ajudavam o gestor público a analisar os custos e modelos operacionais das concessões dos modais de transporte privados, inclusive definindo a necessidade de subsidiar o transporte privado.

O processo de abertura econômica na China foi regulado e racionalizado para o desenvolvimento de todos os setores econômicos da sociedade. Cresceram as empresas chinesas, as empresas multinacionais que se estabeleceram na China e a população, que antes miserável, agora atingiu um crescente padrão de classe média poupadora e pequeno-investidora.

A China vive um processo de desenvolvimento e crescimento singular na história da humanidade. Além deste crescimento veloz e gigantesco, tem hoje uma demanda de consumo nacional e internacional. 

Em matéria de desenvolvimento tecnológico, saiu do copiar produtos com baixa qualidade ao desenvolvimento de grandes tecnologias.

Nestes últimos 35 anos a China teve crescimentos muito significativos, destacando:

– Crescimento médio do PIB em 9,5% a.a.;
– Aumento da Renda Per Capta: de US$ 250 (1980) para US$ 9.040 (2014);
– Investimento: 45,6% do PIB (2015);
– Reservas cambiais: US$ 35,9% do PIB;
– Tornou-se a maior credora líquida do mundo: US$ 1,97 trilhão ou 20% do PIB (2015);
– Tornou-se uma das maiores potências (comercial, industrial e financeira).

A nova Ordem Mundial

A China cresceu em 60 anos mais que os países europeus, que são seculares, e os próprios EUA. Do ponto de vista da gestão optou-se pelo que atualmente se chama de “política de projetamento”. Tudo é desenvolvido através de projetos.

A China cresceu em 60 anos mais que os países europeus, que são seculares, e os próprios EUA. Do ponto de vista da gestão optou-se pelo que atualmente se chama de “política de projetamento”. Tudo é desenvolvido através de projetos.

O que o Brasil tem a ver com isso tudo?

O Centrão nasceu no início do império?

O Centrão é considerado um dos males políticos do Brasil. E alguns pesquisadores estão chegando à hipótese de que ele não nasceu recentemente, mas quando as oligarquias se ofereceram para “dar governabilidade” a Dom Pedro I.

Eram setores escravistas que odiavam o povo. Verdade ou não, tem tudo a ver…

O Brasil acaba de sair de um governo cujo modelo de desenvolvimento é semelhante ao ortodoxo. Digo semelhante porque tem as políticas econômicas hegemonizadas pelo mercado de capitais, mas ainda é governado por um sistema patrimonialista das primeiras oligarquias.

Em 2023 a socialdemocracia ascende novamente ao poder trazendo consigo as bandeiras desenvolvimentistas, mas sem poder suficiente para implementá-las. A socialdemocracia teve que fazer concessões, abrigando em sua frente política parte dos setores que dominaram o governo anterior.

Há de se ter muita habilidade política e de negociação para retomar o modelo desenvolvimentista.

Política não é novela

Os nossos livrinhos de escola, os meios de comunicação e, agora, as redes sociais, tentam convencer a todos que a política é uma novela de embate entre o bem e o mal, encarnados em personagens.

Espero que este texto ajude a refletir a política como o embate de conflitos de interesse sociais, e não pessoais.

Política é a intermediação de conflitos de interesses sociais. As personagens são apenas instrumentos passageiros. Estes conflitos e embates existem há muitos séculos, muito antes destas personagens terem nascido.

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As novas guerras na Nova Rota da Seda

A Nova Ordem Mundial

A Nova Ordem Mundial

Estamos vendo na imprensa (marrom, vermelha, desbotada e outras cores) uma série de artigos onde vemos o termo A Nova Ordem Mundial. Mas vamos tentar entender este termo, para não submetê-lo ao reducionismo da moda, assim como: protagonismo, narrativa, janela de oportunidade etc.

Você também pode ler em PDF. Clique aqui para baixar.

O que é Ordem Mundial (conceito simplificado )

A Ordem Mundial é um tipo de estruturação do poder onde um ou vários países conseguem determinar formas de subordinação de outros. Digo países porque estamos nos referindo aos períodos onde estes já estão estruturados. Este poder subordinante se utiliza de mecanismos de dominação no campo econômico, político e militar. Distingo o campo militar, apesar de ele ser a derradeira ferramenta para a garantia do campo político.

Vamos usar alguns tipos de Ordem Mundial para tentar definir melhor as configurações delas:

Ordem Unipolar, quando apenas um país é capaz de garantir os seus interesses na Ordem Mundial.

Ordem Bipolar, quando dois países disputam, mas têm a hegemonia.

Ordem Multipolar, quando mais de dois países estão nesta hegemonia.

Há muita literatura interessante sobre este assunto, com os mais diversos matizes ideológicos para analisá-lo.

O desconforto bipolar

Durante um bom tempo os EUA conseguiram ditar as regras e monopolizar a Ordem Mundial. O fato de conseguirem impor o dólar como moeda comercial mundial e terem a maior força armada do mundo fez com que se candidatassem a serem o novo império mundial. Seu antecessor foi o Império Britânico, o maior da história em termos de territórios não-contíguos conquistados. O maior império contíguo foi o Império Mongol. 

Os EUA conseguiram manter a sua hegemonia desde o pós II Guerra Mundial. Eles saíram desta guerra com o ótimo poderio bélico, controlando o comércio mundial, os investimentos em engenharia e desenvolvimento. 

Dominaram o cenário político aglutinando até os seus rivais de guerra. Muitos aderiram à Nova Ordem Unipolar, inclusive os nazistas que migraram para os EUA, adquiriram cidadania e ajudaram no desenvolvimento da engenharia militar e farmacêutica. O programa espacial e de mísseis militares americanos foram desenvolvidos pelos engenheiros mecânicos e químicos da antiga alemanha nazista. Mas não só estas atividades. Desenvolveram muitas fábricas que produzem manufaturados que consumimos até hoje. 

Cabe um parêntese para explicar que o real motivo da II Guerra foi a tentativa de destruição da URSS (União Soviética) que estava em ascensão econômica e exportava sua ideologia para vários países europeus. Na Alemanha, antes da guerra, por exemplo, estavam acontecendo várias batalhas dos Maximalistas, que eram grupos militares revolucionários comunistas, que tomaram e perderam o controle de diversas cidades no interior. Fenômeno parecido também estava acontecendo na Espanha. Os nazistas foram os que se comprometeram em ir até a URSS para destruí-la. Por isso, neste período, os nazistas foram financiados pelos EUA, pela Inglaterra, França etc. Mas no caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no caminho: a Polônia. E também porque o grande aliado, o nazista, estava descumprindo os acordos e crescendo mais do que o combinado. Não vou me estender mais sobre os motivos da II Guerra. Isto é apenas para mostrar que já estava em jogo, naquele momento, a hegemonia Unipolar da Ordem Mundial.

Este período unipolar só começou a se desestabilizar quando a URSS alcançou padrões de desenvolvimento e influência capazes de competir economicamente e militarmente. A Rússia não era grande exportadora de manufaturados, mas tinha conseguido sair das dificuldades das suas guerras civis e começara a desenvolver seus setores primários e secundários. Já conseguia dar conta do seu mercado interno que passara por más situações devido ao isolamento político e econômico. Como a URSS sempre teve ao redor de suas fronteiras, permanentes bombardeios, acabou desenvolvendo uma indústria bélica de ponta para garantir sua integridade. A história da Rússia, mesmo antes de se tornar a URSS, sempre foi de conflitos para garantir seu gigantesco território. Por ali passaram vários impérios que conquistaram e perderam parte do seu território. A região da atual Ucrânia passou por estas situações.

A URSS não era uma potência econômica, mas já a segunda maior potência militar do planeta. E com um projeto político independente e diferente do seu opositor, os EUA.

Ordem Bipolar mas ainda com a hegemonia dos EUA

A URSS estava em período de crescimento, mas bem mais lento do que a economia pujante norte-americana, que era capaz de liderar os outros países, inclusive os europeus.

Os EUA também tinham uma doutrina que os ajudavam a ampliar suas zonas de influência: a Doutrina Monroe, que estabeleceu que os EUA tinham uma posição contrária ao re-colonialismo europeu, MAS tinha como princípio de base que os EUA assumissem simbolicamente o papel de líder. Um fundamento (porta aberta) para o processo colonialista do continente latino-americano.

Esta doutrina se ampliou e variou de tal forma que deu fundamento para que os EUA se lançassem no processo de colonização em todo o mundo e não apenas na américa-latina. Então, várias invasões territoriais foram realizadas em prol dos interesses norte-americanos. Os europeus quase não reclamavam porque já o faziam na Ásia e na África. 

No cinema os americanos viviam maravilhosos romances na África e férias divertidas na Turquia. A geração que antecedeu a minha (tenho 66 anos), se divertiu muito com estes romances e comédias hollywoodianas, sem saber qual era o trágico pano de fundo histórico.

Mas nem tudo agradava aos parceiros europeus dos EUA. Na década de 70 os europeus aventaram criar o seu bloco econômico para alterar a hegemonia dos EUA na Ordem Mundial. Tentaram criar uma zona econômica européia. Queriam trocar suas reservas em dólar pelo ouro que os havia lastreado. Mas o poder bélico e econômico dos EUA foi capaz de alterar as regras e, em 1979, o lastro do dólar passou a não ser mais o ouro, mas o petróleo, que tem valor variável. A tática europeia não deu certo, mas ali se começou a estruturar uma alternativa para a atual Ordem Mundial, a criação da Comunidade Européia com uma moeda e um parlamento próprios.

Enquanto isso a URSS crescia, já exportava e tinha vários parceiros comerciais, muitos deles europeus. A Ordem começava a virar desordem para os EUA.

Guerra híbrida

O crescimento da URSS já começava a ser uma ameaça de fato. E já não dava para mandar navios e aviões para ficarem bombardeando as costas soviéticas, pois os soviéticos  já estavam armados até os dentes. Muito menos fazer ataques por terra, pois eles já tinham uma das maiores infantarias do mundo. Não dava para aglutinar os europeus contra a URSS, pois vários países faziam negócios ou eram sócios.

Mas os republicanos americanos tiveram uma ideia “semi-bélica” que não precisava disparar nenhum tiro: a corrida armamentista. Para cada arma que os americanos inventavam, para atacar a URSS, esta tinha que gastar fortunas para fabricar armas defensivas. Com isto, a corrida alterava os investimentos da URSS de bens de consumo e desenvolvimento para fabricação de armas. É como se duas pessoas lutassem debaixo d’água sem aqualung. Quem tiver menos fôlego morre. E realmente esta política teve efeito. A economia da URSS declinou, houve crise e culminou com a queda do Muro de Berlim e a desestruturação da URSS. 

Foi um período quase que de Ordem Unipolar, pois a URSS estava enfraquecida e a Europa ainda engatinhava na construção da Comunidade Européia, que sempre teve dificuldades internas e nunca conseguiu uma boa unificação.

Os EUA estavam surfando na sua ampliação hegemônica, mesmo enfrentando as crises estruturais naturais do capitalismo. Mesmo o mundo tendo aumentado o nível de miséria, estavam acumulando cada vez mais capital.

Também dava tranquilidade aos EUA o fato de que a Rússia sempre teve conflitos seculares com a China, que era um dos seus grandes parceiros. A China crescia, e dentro dela haviam várias empresas americanas, que fabricavam seus manufaturados Made in China.

Mas a realidade foi se modificando e a China tornou-se também uma potência comercial, tecnológica e militar. Seu crescimento estava mais rápido do que os seus trens balas, suas naves espaciais e seus foguetes intercontinentais. Aí começou o estado de depressão.

Que comunistas são estes com tantos empresários e milionários?

A China cresceu em 60 anos mais que os países europeus, que são seculares, e os próprios EUA. Um país onde as eleições são comunistas, cujo parlamento maior, o Congresso Nacional do Povo, também é composto por comunistas, mas que todas as empresas são privadas. Pode soar estranho, e é para o ocidente. 

Apesar do sistema político pressupor que a política econômica é criada pelo Estado, na realidade nem o Estado é capaz de interferir nelas. A China baseou seu desenvolvimento em rígidos planejamentos de pequeno, médio e longo prazos. O que aqui discutimos como “fazer gestão” e estamos aprendendo que isso é fundamental, lá na China faz parte do dia-a-dia das pessoas e do Estado. Um projeto de longo prazo não pode ser alterado antes que seja concluído, nem pelo Estado. O país é grande demais e não existem mecanismos de controle, a não ser o planejamento e execução. Isto eles chamam de “política de projetamento”. 

A China se tornou a maior ameaça comercial aos EUA. Também não dá para ameaçar militarmente nem boicotar sua economia, pois, como já disse, muitas empresas norte-americanas estão lá. A China também é a maior compradora de bens americanos. Se ela decair, as vendas norte-americanas também cairão, afetando a balança comercial.

É uma sinuca-de-bico. Tanto para a China quanto para os EUA interessa que comprem e vendam entre si.

Em 2017 a China anunciou um investimento de cerca de 70 bilhões de dólares para a criação da Nova Rota da Seda. 
Assim como a Primeira Rota da Seda, esta também abre a maior perspectiva de integração comercial dos últimos séculos.

É uma rede de negócios envolvendo um comércio trilionário, que tem por traz uma infraestrutura de diversos modais de transporte e até monitorização do espaço, via satélites. Atualmente atinge cerca de 4 trilhões de dólares em negócios!

O que foi um negócio que começou na Ásia, agora já está se estabelecendo em quase todos os continentes. Chama-se Projeto Eurásia. Um projeto que está unindo países historicamente conflitantes, como Rússia e China, e já encontra-se em funcionamento e circulando na maioria dos países da Europa. 

A China também vem ocupando o cenário internacional com um modelo de negócios diferente dos habituais do ocidente. Em geral, a cartilha do FMI e as instituições financeiras internacionais pregam a recuperação econômica, através de empréstimos, cuja garantia de pagamento são a venda de passivos destes países que se endividam. 

A China faz empréstimos a juros bem mais baixos desde que os devedores adquiram produtos e serviços das empresas chinesas. É um modelo onde os devedores não colocam em risco seu patrimônio e conseguem transferência de tecnologia e geração de emprego. 

A Argentina está fechando um acordo com a China para desenvolvimento de uma planta de energia nuclear e a ampliação de sua infraestrutura. 
Este tipo de negócio está fazendo com que vários países procurem fazer negócios com a China e não com a Europa e EUA

Durante o último governo dos republicanos a estratégia foi de forçar os aliados, inclusive europeus, a não fazerem negócios com a China. Deu certo até certo ponto, pois quem deixou de fazer negócios com a China deixou a oportunidade para os EUA. 

No Brasil aconteceu exatamente isso. O governo brasileiro atuou mal diplomaticamente, deixou de vender uma boa quantidade de commodities. Os EUA acabaram fazendo este negócio no lugar do Brasil…. 

Agora a Nova Ordem Mundial já não é mais bipolar e já tem os olhos puxados. 

Guerra como instrumento político-comercial

Com a eleição do Partido Democrata, que nos EUA é conhecido como o Partido da Guerra, a tática mudou. Voltamos a ver um mundo belicista. A estratégia recorrente deles é destruir militarmente seus maiores adversários, custe o que custar. Eu já havia previsto isto no meu artigo “O que ganhamos com as eleições americanas” de 14/11/2020. 

Os membros do Partido da Guerra invadiram a Líbia, o país mais rico e independente da África, assassinaram e decapitaram o presidente e exibiram na imprensa. Invadiram o Iraque, financiaram Bin Laden e os traficantes de heroína, fomentaram a guerra na Síria, promoveram o genocídio no Iêmen e muito mais. Mas tudo deu errado. 

Perderam quase todas as guerras e recentemente saíram correndo do Afeganistão, inclusive deixando grande parte dos seus armamentos por lá. Nos EUA este foi considerado o primeiro grande vexame do atual presidente.

Um dos grandes objetivos é a intimidação belicista. Este é o papel do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Há um acordo celebrado com os EUA, na época do governo Gorbachov, de não proliferação da OTAN. Os EUA não cumpriram o acordo. Nos últimos anos a OTAN se estendeu de forma extraordinária na direção do território russo. E chegou às suas portas.

Ucrânia e as ações da CIA e União Européia

Esta região que atualmente se chama Ucrânia foi um território ocupado por diversos povos. No século V foram os eslavos, no século IX foram os vikings e escandinavos. Juntos com os eslavos formaram o Reino de Rus. Há um espírito cultural forte de ali ter brotado a Rússia. Em 1920 esta área foi unificada com o nome de Ucrânia, uma terra muito fértil, até hoje. 

Na Ucrânia há grandes plantações de trigo que é exportado para muitos países. Cinquenta por cento da população fala russo e boa parte de seus cidadãos tem dupla cidadania. 

Os EUA e União Européia usaram seus serviços de inteligência  para instigar a “Revolução Laranja” cujo objetivo era trazer a Ucrânia para uma aliança com o ocidente  (assim divulgou a agência Norte-americana de inteligência). Mesmo assim, em 2004, as eleições ucranianas foram vencidas por Viktor Yanukovych. A Ucrânia tem uma oligarquia que tenta apropriar o Estado em seu favor, deixando a população com o conhecido “Estado Mínimo”.

A partir daí as ações dos EUA e União Européia se intensificaram e tentaram desestabilizar o governo eleito ucraniano. 

Em 2014 a União Européia (UE) tentou fazer acordos a partir de parcos financiamentos que não foram realizados, pois a Rússia estava bem financeiramente e ofereceu bilhões em investimentos. Mais uma derrota dos EUA e UE, que não desistiram da disputa pela Ucrânia. 
Deram um golpe conhecido como Revolução Maidan, bancada pelo governo Obama.

Daí em diante as atuações dos EUA e UE contaram com grupos nazistas da Galícia. Houve ocupações em Kiev com tumultos e tiroteios. O nazi-fascimo tomou conta da Ucrânia, houve muita perseguição e morte e o oligarca Petro Poroshenko foi declarado vencedor desta eleição violenta e fraudulenta. 

Aqui no Brasil, recentemente, vimos em algumas  manifestações estas bandeiras ucranianas usadas pelos grupos de ultradireita e que tremulavam em plena avenida paulista.
Por incrível que pareça, foi a torcida do Corinthians quem os enfrentou.

Voltando à Ucrânia. Depois desta eleição, a extrema-direita no poder, proibiu o uso da língua russa na Ucrânia. Toda a oposição foi violentamente reprimida e muitos se abrigaram em Lugansk e Donetsk. Mesmo refugiados nestas regiões, muitos membros de partidos de esquerda e sindicalistas foram perseguidos e assassinados pela extrema-direita nazi-fascista. 

Nas últimas eleições ucranianas o ator Volodymyr Zelensky, um comediante de televisão, sem nenhuma experiência política, refém da extrema-direita nazi-fascista, se elegeu com uma pauta anti-política e fascista. 

Voltando à Ucrânia. Depois desta eleição, a extrema-direita no poder, proibiu o uso da língua russa na Ucrânia. Toda a oposição foi violentamente reprimida e muitos se abrigaram em Lugansk e Donetsk. Mesmo refugiados nestas regiões, muitos membros de partidos de esquerda e sindicalistas foram perseguidos e assassinados pela extrema-direita nazi-fascista. 

Nas últimas eleições ucranianas o ator Volodymyr Zelensky, um comediante de televisão, sem nenhuma experiência política, refém da extrema-direita nazi-fascista, se elegeu com uma pauta anti-política e fascista. 

Assista ao vídeo de campanha de Zelensky . Ele é parte do filme onde interpreta um professor que acidentalmente se tornou presidente e venceu as eleições. Dá para ver bem quem ele é e o que representa.

Como saber quem está em vantagem

No jogo de xadrez o grande objetivo inicial é dominar o meio, as quatro casas centrais. Quem não dominar levará muita desvantagem ao longo do jogo. E para isto joga-se o jogo-posicional. Os principiantes sempre se aventuram e fazem jogadas perigosas. Só ganham de outros principiantes. Se jogarem com alguém um pouco mais experiente vão perder. Não imaginam que o adversário verá as suas intenções.

Os mais experientes jogam o jogo posicional, que é mais lento e que tenta imaginar mais que cinco jogadas à frente, tanto dele quanto do adversário. É preciso ter calma, experiência e capacidade de abstração. 
Pode não parecer, mas depois do décimo lance podem ser jogadas mais de um quatrilhão de variantes. 

E existe uma dificuldade que só a experiência é capaz de fazer: olhar para um tabuleiro e dizer quem está em vantagem. No xadrez só se deve movimentar uma peça depois de toda esta reflexão e concentração. 

Na política e na guerra as regras são iguais às do xadrez. E por isso mesmo vamos ver a dificuldade de analisarmos como será a próxima Ordem Mundial.

O blefe irresponsável de uma política irresponsável

Há uma velha frase político-militar que diz que você não deve ir para uma posição que não possa sustentar, e muito menos, levar outros consigo.

 Isto é o que o Partido da Guerra está fazendo neste momento.Pressionou o ator-presidente a permitir a instalação de bases da OTAN no nariz da Rússia. Prometeu total apoio. Se a Rússia se manifestasse os EUA e a UE dariam as respostas que garantiriam a continuidade da instalação.

Mas a Rússia já previa isto há alguns anos, já que vinha tentando negociar o não avanço da OTAN com os ouvidos surdos dos EUA e UE. 
Diante da quebra do acordo e do avanço da OTAN, a Rússia se preparou, econômica e militarmente. Os EUA e UE apenas blefaram.

A Rússia acumulou mais de 600 bilhões de dólares em suas reservas caso tivesse que passar por sanções econômicas. Fez parceria com seus países vizinhos, inclusive a China para continuar fazendo negócios. Isto significa que as ameaças de sanções não vão influenciar tanto nas decisões russas.

O gás europeu é fornecido majoritariamente pela Rússia, que é autossuficiente de fontes energéticas de hidrocarbonetos e outros. Pode prescindir de importações.

A Rússia tem hoje um grande estoque de mísseis hipersônicos, enquanto os EUA ainda não conseguiram produzir nenhum e está em muita desvantagem. É necessário mais de dez anos para se conseguir colocar em funcionamento um míssil hipersônico. A Rússia tem obviamente o apoio militar da China. 

Isto significa que não haverá uma grande guerra. Todos têm arsenal atômico para destruir o planeta. Ou seja, ninguém vai apertar o botão vermelho. 

Os EUA blefaram e isto está refletido na gagueira e exitação do seu presidente, que antes da crise já havia perdido credibilidade em seu país. Deixaram o presidente da Ucrânia solitário em seu camarim, com pavor de ter que abrir as cortinas. O público foi embora e já não tem mais o que interpretar. O show acabou. 

A Rússia invadiu a Ucrânia sabendo que os EUA estavam blefando, que não iam fazer nada. Como dizem hoje os republicanos nos EUA: “o presidente não fez nada e foi dormir”.

Enquanto isto, o presidente da Rússia justificou a invasão em prol da garantia de defesa do território russo.

Assista a entrevista do presidente Putin para a imprensa internacional.

Não poderíamos chamar de um erro de principiante, pois os Democratas do Partido da Guerra perderam quase todas as suas guerras. É uma burrice recorrente.

Agora os EUA perderam mais ainda seu espaço na atual Ordem Mundial e levaram juntos, por enquanto, vários países. 

Há uma frase que diz que diplomacia é afagar o cachorro com uma mão enquanto pega a coleira com a outra.  Países não são amigos, têm interesses provisórios que os unem.

A Nova Ordem Mundial

Há uma lei universal que diz que não existe vácuo na política. Ele sempre estará ocupado.

A precipitação imatura e despreparada dos EUA vai provocar uma nova correlação de forças militares, econômicas e políticas. 

A Rússia está em plena fase de crescimento e detentora de importantes fontes de energia e commodities. É uma das maiores potências militares.

A China está se dirigindo para ser a maior potência econômica do mundo até o final desta década. E está tentando alavancar a América-Latina, África (um continente abandonado pelos EUA e UE) e Ásia, formando um bloco econômico alternativo.

A UE e os EUA têm economias poderosas e não vão se subordinar a outros modelos políticos e econômicos.  Mas devem ter que negociar novas formas de relacionamento com o mundo.J

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Já dá para começar a refletir sobre como será esta Nova Ordem Mundial.

Vamos ficar diante do tabuleiro e analisar, pois agora ela já se tornou uma Ordem Multipolar.

Capitalismo Internacionalista x Capitalismo Nacionalista

(por Leon Ayres em 23/02/2022)

Onde este conflito vai nos levar?

Esta é a pergunta que deve nos levar a uma discussão sobre para onde vai o capitalismo que já se tornou internacionalista, mas que gera internamente uma reação nacionalista. Isto é um conflito ou um paradoxo?

Os Estados Unidos em primeiro lugar!

Esta frase, proferida pelo ex-presidente Donald Trump, pode parecer que significa que os interesses dos EUA devem se sobrepor a qualquer outro. Mas não é apenas isso. 

Vou trazer para a discussão o que considero como sendo o verdadeiro significado e que explica outros movimentos políticos como, por exemplo, o Brexit.

Espero que ajude na compreensão sobre o aumento dos movimentos nacionalistas, conservadores, de direita e extrema-direita, assim como alguns fatos que estamos vendo e muitas vezes não entendendo. 

Não estou pretendo fazer algum juízo de valor, mas apenas despertar em cada leitor um olhar mais apurado e crítico.

O crescimento do capitalismo internacionalista

Este fenômeno não é atual, já acontecia no início da década de 30. Só que agora atingiu uma dimensão muito maior que no passado.

Hoje em dia há empresas que têm um capital maior do que o PIB (Produto Interno Bruto) de vários países. Mais do que alguns juntos! São grandes corporações que operam e estão distribuídas em vários países. 

Pode parecer exagero, mas o renomado analista americano de política e economia, Thom Hartmann, calculou que estas corporações têm capital acumulado de mais do que 20 vezes o PIB de todo o mundo! Isto para comprar à vista.

Estas corporações são maiores do que tudo que se possa imaginar e não estão submetidas a nenhuma legislação que as controle. Muitas têm sedes em paraísos fiscais e não pagam os tributos regulares dos países de origem. Não são punidas e influenciam os países onde seus capitais estão circulando. Influenciam mais do que os seus próprios países. Muitos dos seus donos, ou maiores acionistas, nem moram onde criaram suas empresas, mas em todo o mundo. 

As fronteiras das suas nações não estão contidas nos seus países de origem. 

Mas isto não nasceu recentemente. Após a crise de 1929, muitas empresas quebraram, muitos bancos faliram e houve muito suicídio por isso. Mas foi o período onde se formaram as grandes fortunas norte-americanas. Alguns banqueiros e empresários continuaram vivos, enriqueceram e se expandiram internacionalmente. Não como agora, mas da mesma forma, através dos mesmos métodos de atuação.

O capitalismo nacionalista

O desenvolvimento do capitalismo internacionalista gerou problemas internos em diversos países onde essas corporações se originaram. No capitalismo o crescimento do capital é fundamental para a sua sobrevivência e existe uma concorrência ferrenha entre as empresas. Quem enfraquecer, ou permanecer do mesmo tamanho, será engolido pelos mais fortes. Então, crescer está acima do que os compromissos com seus países.

Nestes momentos, quando os compromissos das empresas não estão vinculados aos seus países, crescem movimentos políticos, de base ideológica nacionalista, com a intenção de resolver este problema. Historicamente, os mais fortes deles são os movimento de direita e extrema-direita (faço esta distinção por causa dos movimentos ditos conservadores, os fascistas e os nazistas).

Dentro do campo atualmente denominado de esquerda (que cada vez está mais difícil de ser caracterizado) existe um brando viés nacionalista, mas que não tem propostas político-econômicas para fazer frente a estas corporações. Muitas vezes têm até que se curvar a elas para conseguir governar. 

Em algumas situações a socialdemocracia dos países em desenvolvimento faz algumas atuações em prol das suas empresas nacionais, pois visa a melhoria das condições dos trabalhadores. 

Nos movimentos socialdemocratas e trabalhistas, democratas cristãos etc., são tênues as atuações junto aos conflitos entre o capitalismo nacionalista e o internacionalista. Principalmente em países ricos. A socialdemocracia está no campo da conciliação de classe, das melhorias para a classe trabalhadora e do pacto social. Nestes países ricos existe uma vulnerabilidade das empresas nacionais frente às internacionalistas. 

As empresas internacionalistas estão distribuídas em vários países, com várias sedes, com várias razões sociais e estão acima das regras que as empresas nacionais têm que seguir.

As empresas nacionais não conseguem sobreviver diante de regras que não favorecem à sua existência, muito menos ao seu crescimento. Um comerciante local cumpre as regras do local onde sua empresa foi criada. Se for cumprir regras internacionais corre o risco de não conseguir sobreviver. 

Vou dar um exemplo bem simples de um empresário tradicional que sobrevive em seu país cumprindo as regras locais. Suas mercadorias atendem aos padrões locais, cumpre a legislação local, emprega funcionários locais etc. 

Eis que agora ele tem que ter  um padrão ou certificado internacional para produzir e vender suas mercadorias. Seus produtos vão ficar mais difíceis de serem manufaturados, ficarão mais caros e encontrará uma série de outras dificuldades. As empresas internacionalistas vão exportar as mercadorias delas para os clientes dele, que vai diminuir sua lucratividade, vai demitir funcionários e possivelmente falir. Esta situação está acontecendo em vários locais.

Vimos recentemente algumas situações em alguns países que nos foram difíceis de entender.

Há dois bons exemplos que ilustram o que estou dizendo.

O Brexit

A Inglaterra entrou na Comunidade Européia e se adequou às regras do bloco. Foi bom para as empresas internacionalistas, pois também abriram seus mercados. Mas trouxe um grande transtorno para os pequenos, médios e grandes empresários ingleses. 

Na Europa, a Comunidade Européia estabelece as regras comerciais para os países que compõem o bloco. Ou seja, algumas das maiores empresas internacionalistas européias. Algumas inglesas e a maioria alemãs.

As grandes corporações inglesas se beneficiaram, mas os empresários locais não. Muitos quebraram, muitos empregados tiveram que ser demitidos e o tradicional e secular orgulho inglês caiu na angústia e depressão. Começou um grande movimento de descontentamento.

O movimento acabou desembocando na proposta de saída da Inglaterra da Comunidade Européia. Funcionando ou não, esta tática mostrou a alternativa da direita para esta situação. O nacionalismo arrebanhou adeptos, cresceu e as outras linhas políticas ficaram apreensivas.

O fenômeno Trump

Quem imagina que o ex-presidente ganhou as eleições por causa das redes sociais, se enganou. 

Nos EUA estão localizadas as maiores corporações do planeta. Estão em todos os setores das atividades humanas e distribuídas em todos os países. Até no seu grande rival comercial, a China. Está cheia de corporações norte-americanas vendendo produtos Made in China. Nos EUA estão as matrizes, mas nem sempre. A maior parte dos seus capitais está fora, pagando menos ou nada de impostos.

Assim como na Inglaterra, as grandes corporações não sofreram, como as pequenas, médias e grandes empresas exclusivamente americanas. Da mesma forma, do que na Inglaterra, muitas empresas quebraram, muitos empregados foram demitidos e o orgulho norte-americano decaiu. 

A situação interna também piorou por causa da sua falta de capacidade de rápida recuperação econômica pós-crise de 2008. Os EUA quando saem de uma crise, quase sempre, crescem cerca de 4% ao ano. Desta última vez se penduraram em um mísero 2%. Ou seja, cresceram apenas a metade, ou pensando de outra forma: encolheram.

No interior dos EUA este cenário foi o pior. O padrão de vida das pessoas e das empresas locais quase que despencou. Assim como na Inglaterra surgiu um grande movimento de descontentamento e também cresceu o nacionalismo. Este foi o eleitorado que fez a diferença nas eleições, e não o desempenho das redes sociais. Não é a propaganda que ganha as eleições, mas a base política. E esta foi a base do ex-presidente.

A frase “America first” (EUA em primeiro lugar) foi um recado de campanha eleitoral para as grandes corporações norte-americanas, cujas fronteiras nacionais não mais estavam no seu país de origem. E esta frase aglutinou os nacionalistas norte-americanos e a extrema-direita.

A direita e extrema-direita americana ajudaram a alavancar a campanha de um despreparado, mas carismático falastrão. Há de se lembrar que até ator de cinema foi eleito presidente apoiado pelas extrema-direita norte-americana e alemã (que ainda existem e atuam nos dois países). A família Koch Brothers, por exemplo, uma das mais ricas dos EUA, de extrema-direita, racista, teve papel importante no financiamento da campanha do ex-presidente. 

Trump e os Koch Brothers durante a campanha

Quem viu o filme “Infiltrado na Klan” viu as cenas reais da atuação da Koch Brothers em uma manifestação.

Onde estão as fronteiras e de que lado estou?

Boa pergunta. Agora o artigo continua nos seus pensamentos e nas suas conclusões. Discutir é o mais importante!

Sobre o conflito da Rússia e Ucrânia

O fim da guerra fria

Para entender esta nova Guerra Fria precisamos voltar à primeira, após a queda do Muro de Berlim. 

Com a queda do Muro de Berlim houve uma grande reviravolta na economia da antiga União Soviética. Foi o período da Glasnost iniciado no governo de Mikhail Gorbachev.

Foi o início do liberalismo na União Soviética, que já era denominada Rússia.  A partir daí houve um verdadeiro colapso na economia. Muitos setores, como a  indústria e o comércio, foram praticamente paralisados. Naturalmente o desemprego disparou. 

O Sistema de Saúde foi sucateado e o Sistema de Proteção Social foi completamente destruído. Um verdadeiro colapso. Milhões de pessoas chegaram à linha da miséria.

As forças armadas também ficaram em condições deploráveis. Não era incomum, naquela época, vermos ex-militares traficando aviões de caça, que eram trazidos desmontados em aviões de carga civis. Tivemos um caso desses aqui mesmo no Brasil.

O bêbado equilibrista

Seguiu-se ao fraco governo de Mikhail Gorbachev o fraquíssimo governo de Boris Yeltsin. Um fantoche digno daqueles apresentados no desfile de carnaval pela Escola de Samba da Mangueira, em 2020.

Não foram apenas dez vezes que o presidente Boris Yeltsin apareceu em público completamente embriagado. Em algumas dessas aparições, ele teve que ser amparado pelos seus seguranças, para não cair no chão, alcoolizado.

Um homem que foi colocado pelo liberalismo ocidental para usar a pá-de-cal e enterrar a composição do grupo de países que compunham a antiga União Soviética.

O Partido Democrata, norte-americano, ou o Partido da Guerra, como é conhecido nos EUA, e os financistas da Wall Street, jogaram suas fichas para desestruturar a economia russa.  

Nesta tentativa de desconstrução da economia russa, sofreram bastante aqueles países que se beneficiaram da antiga União Soviética. Eram os mesmos, os direitos sociais e econômicos daqueles países. Com a desvinculação dos países que compunham o bloco, 25 milhões de pessoas tornaram-se estrangeiras da noite para o dia e passaram a ter direitos diferenciados.  Foi uma das maiores catástrofes sociais do Século XX. 

Em 1993, os deputados do parlamento russo se posicionaram contra a política de Boris Yeltsin, que mandou tanques dispararem contra o prédio do parlamento com balas que atingiram vários escritórios. Foram muitas manifestações populares e verdadeiras batalhas nas ruas com centenas de mortos. Bill Clinton se pronunciou dando total apoio a Yeltsin. Afirma Clinton: “Os Estados Unidos continuam firmes no apoio ao presidente Yeltsin”.

A política de Yeltsin-EUA estava dando resultado. Mas a situação caótica deu início a várias guerras civis por causa das diferenças e falta de uma política unificadora. Yeltsin renuncia em 1999.

A reviravolta russa

A partir do ano 2000 iniciou-se o governo Putin e a economia russa tomou outros rumos. O governo que se seguiu não tinha mais a linha soviética de atuação política e econômica. A Rússia começou a mudar, mas fora do campo liberal do ocidente. A Rússia começou a cuidar de si.

Uma das linhas de desenvolvimento passava pela pesquisa e Intensificação da indústria (tecnológica, eletrônica, petroquímica, agricultura etc.). Algo óbvio para qualquer tipo de governo que queira desenvolver o seu país.

Investiu em uma privatização mais equitativa sobre o controle de Estado. Algo que também é óbvio para qualquer tipo de governo. Nem os EUA, nem os europeus, nem as potências asiáticas abrem mão do controle do Estado sobre a economia. Se não vira quintal do sistema financeiro.

Quais foram os resultados dessa política:

  • Aumento do PIB;
  • Reforma das forças armadas;
  • Privatização mais equitativa, mais justa (estatais não foram vendidas “de graça”);
  • Encerrados os esquemas de formação de oligarquias (criação relâmpago de bilionários);
  • Estado tomou a responsabilidade pelas indústrias estratégicas;
  • Propriedades foram preservadas,, pois havia leis para protegê-las;
  • Empresas tiveram que assumir responsabilidades sociais;
  • A maioria dos empresários toparam,se  adaptaram e se sentiram mais confortáveis. Quem não ficou satisfeito: bilionários que enriqueciam, não por seus talentos empreendedores, mas pela capacidade de forçar o Estado a dar-lhes privilégios; 
  • Redução da taxa de pobreza em 2/3;
  • Aumento das pensões para idosos.

Em 2004 Putin foi reeleito com 70% dos votos. Ao longo do governo Putin a renda média subiu de 700 rublos (2000) para 29.000 rublos (2012). Ou seja, 4.142,85% (41 vezes). 

A Rússia quitou todas as suas dívidas de todas as repúblicas que compunham a antiga União Soviética, fato aprovado até pelo FMI. A dívida da Ucrânia era de US $16 bilhões.

Tudo isto atrapalhou os negócios financistas da Wall Street na Rússia. A política liberal ocidental começou a sentir cansaço na sua caminhada. Estavam perdendo o controle. Agora só restavam as guerras localizadas.

O governo dos EUA apoiou Bin Laden e Al-Qaeda contra a Rússia. O diretor da CIA no governo Reagan,  fez esforços para incitar os muçulmanos no Cáucaso (Ásia Central) contra a Rússia. O plano iria além de derrotar a Rússia no Afeganistão. Era tentar derrubar o regime. O plano, explícito, dos EUA continuou na Chechênia. No governo Bush houve apoio financeiro-militar, confirmado pelo próprio Bush . 

Mas a frágil e trágica estratégia americana fez com que seus aliados se tornassem inimigos, chegando a derrubar um dos seus maiores símbolos: as duas torres gêmeas…

Em matéria de política externa os EUA seguem a estratégia do “Tiro, Porrada e Bomba”. A tática atual é tentar obrigar os europeus a um novo enfrentamento mundial.

E o vento levou…

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) nasceu em 1949 para proteger o mundo contra a expansão comunista. Para se contrapor à OTAN, o bloco socialista criou o Pacto de Varsóvia. Foi o início da Guerra Fria.

Com a unificação da Alemanha (queda do Muro de Berlim) acordou-se que a atuação da OTAN não avançaria mais do que as fronteiras da Alemanha. Este foi um acordo verbal no período de Mikhail Gorbachev. Ou seja, as palavras o vento leva…

E o vento levou. Apesar de não haver mais nenhum conflito que caracterizasse a Guerra Fria, a OTAN veio avançando sobre a fronteira das antigas Alemanhas.

Há, desde o governo Clinton, um aumento considerável de investimentos militares. O Partido da Guerra investe pesado na sua maior arma de convencimento, apesar do jeito simpático dos seus grandes líderes.

Enquanto a Rússia investiu US $40 bilhões, os EUA chegaram a US $460 bilhões em 2016 durante o governo Obama. A simpática e bélica Hillary Clinton fez aumentar os investimentos militares em favor da intervenção na Síria, uma das suas guerras mais recorrentes. A soma de todo o investimento militar mundial é de US $600 bilhões.

Nos períodos dos governos do Partido da Guerra, o Pentágono considera a Rússia como a maior ameaça aos EUA.

A verdadeira ameaça

A verdadeira ameaça aos EUA gesta em suas próprias entranhas, assim como o Alien, o oitavo passageiro. A grande ameaça é sua economia que encontra-se em declínio há bastante tempo, há algumas décadas. 

Do ponto de vista externo os EUA estão diante do surgimento do Projeto Eurásia, com a criação da Nova Rota da Seda. Este é um dos maiores empreendimentos comerciais da história da humanidade e está conseguindo unir antigos rivais, como a China e a Rússia. 

A Nova Rota da Seda movimenta bilhões de dólares em uma rota comercial que se iniciou na Eurásia Central e se espalha por todo o mundo. Esta é a grande ameaça externa dos EUA. É rota de passagem esta região  onde encontram-se países que circundam o Mar Negro e Mar Cáspio. Com certeza é o alvo do Partido da Guerra através da sua tática de “Tiro, Porrada e Bomba”. A Ucrânia é um local taticamente importante e alvo de atividades geopolíticas comerciais. Quem dominar aquela área levará vantagem. 

Por isso, não imaginemos que este aparente conflito na Ucrânia se explique com estas notícias novelescas de defesa da democracia, aumento de terras ou mesmo problemas psicológicos de governantes.

Também não vamos deixar de levar em consideração que a China, que antes era quase que inimiga da Rússia, é a grande idealizadora e maior investidora da Nova Rota da Seda. Se a guerra acontecer, ela vai participar. Poderá ser uma guerra maior que todas as outras juntas!

A carta de Putin a Xi Jinping: "Rússia e China: uma parceria estratégica  orientada para o futuro" - SIC Notícias

Nem os ucranianos nem os europeus estão interessados neste conflito, pois todos estão se beneficiando desta nova rota comercial. 

Neste momento, o presidente Zelensky, que também é comediante, está tentando fazer o melhor roteiro possível para lidar com o pior drama na vida dos ucranianos.

Países não são amigos ou inimigos, eles têm interesses comuns e conflitos comerciais. Por estes conflitos comerciais eles vão à guerra, mas contam outra historinha para justificarem seus atos. 

Espero que o mundo não siga o desespero de um império que está se esgotando. O Império Romano passou por isso e os senhores feudais também. 

Toda crise gera oportunidades e nesta há a possibilidade de mudança de uma nova ordem mundial. Pense sobre a ordem mundial que você gostaria de ver. 

Como dizia Ariano Suassuna, “só nos resta tentar ver as coisas com realismo, pois o pessimista é um chato e o otimista um tolo”.

As novas guerras na nova Rota da Seda

Por Leon Ayres em 03/02/2022

Saiba o verdadeiro motivo dos conflitos na Ucrânia e países próximos do Mar Cáspio e Mar Negro. Mas para entender teremos que voltar um pouco na história, no início da Rota da Seda. Ela ressurgiu e é a maior ameaça comercial para os EUA.

A Primeira Rota da Seda

A Primeira Rota da Seda surgiu mais ou menos no Século II a.c. Eram duas rotas que eram usadas inicialmente para o comércio da seda chinesa, mas foi se ampliando e outros produtos também foram comercializados. Eram caravanas e embarcações oceânicas que faziam o transporte de mercadorias entre a Ásia e a Europa. 

Mas não era uma rota segura, haviam muitos piratas e ladrões. Em 1271, com o estabelecimento do Império Mongol a Rota da Seda tornou-se muito mais segura e ampliou-se de forma extraordinária.

A rota marítima ainda não tinha se desenvolvido naquele momento. Esta rota foi bastante disputada, inclusive pelos europeus, que utilizaram o mar para fazer “grandes descobertas” e “comércio nas Índias”. Agora dá para entender o que eram aquelas expedições portuguesas que estudamos nos nossos precários livros de história. O objetivo era a Rota da Seda, o maior empreendimento comercial. E ninguém se furtava a usar a força bélica para atingir seus objetivos. Agora podemos voltar aos dias de hoje.

A nova Rota da Seda

Em 2017 a China anunciou um investimento de cerca de 70 bilhões de dólares para criação da Nova Rota da Seda. Assim como a Primeira Rota da Seda, esta também abre a maior perspectiva de uma integração comercial dos últimos anos.

Nasce o Projeto Eurásia, com a participação comercial da China, Rússia e vários países do oriente médio, ou também denominada Eurásia Central. É o estabelecimento de relações comerciais bilionárias entre a Ásia e a Europa. 

A seda, neste caso, serve mais para criação de camisas do que seu principal produto de comércio. Assim também aconteceu na Primeira Rota da Seda. 

E no momento onde a economia norte-americana passa por determinado nível de declínio, a Rota da Seda é uma grande ameaça. Então, o que fazer?

Durante o governo republicano de Trump, a tática americana era de forçar seus aliados a não fazerem comércio com a China. Dá para entender porque o governo brasileiro começou a hostilizar o governo chinês e perder dinheiro com as exportações do agro-negócio. 

Nada havia nada de ideológico, mas apenas perder dinheiro para defender os interesses americanos. Esta tática americana não deu certo, pois vários países europeus continuaram a fazer “negócios da China”.

Com o governo democrata de Joe Biden a tática é bem diferente, e digamos, objetivamente bélica, fazendo guerras para encarecer o transporte de mercadorias ou inviabilizá-los. 

Parafraseando Carlos Drummond de Andrade: no caminho tem uma pedra americana. Mas terão que ser muitas pedras. A rota passa por muitos países. E como o Partido Democrático é conhecido nos EUA como o “Partido da Guerra” as soluções têm gosto de pólvora.

Vamos observar o mapa mais detalhado onde atualmente estão acontecendo as maiores tensões diplomáticas, iniciando uma nova Guerra Fria. Parecem guerras ideológicas, com objetivos nobres de defesa da liberdade e da democracia. Mas são guerras-de-rapina, onde o interesse é comercial. 

A Rota da Seda passa por países próximos ao Mar Cáspio e do Mar Negro. Vários destes vivem conflitos diplomáticos e bélicos como a Ucrânia, Kazaquistão, Turkemenistão, Afeganistão, Irã, Azerbaijão etc. 

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que deveria ter sido extinta após a queda do Muro de Berlim, vem crescendo e se espalhando por esta região. O grande exemplo é o crescimento da OTAN na Ucrânia. 

Para justificar este avanço das forças militares da OTAN os EUA divulgam International Fake News, dizendo que a Rússia irá invadi-la, fato que os próprios ucranianos negam…

De agora em diante veremos muitos conflitos nesta região. O verdadeiro objetivo: dificultar ou destruir a Nova Rota da Seda.

Agora você já sabe. Não se iluda com o noticiário novelesco que trata estes conflitos como nobres guerras ideológicas. É desespero comercial mesmo!

Esta é apenas uma pequena introdução ao tema. Para aprofundar mais sobre este assunto pesquise o analista político internacional, Pepe Escobar. Foi nesta fonte que eu bebi.


O movimento reformista na democracia burguesa

(Leon Ayres – fevereiro/2021)

Ao final da II Guerra Mundial os países que estiveram na hegemonia da guerra contra o nazismo sentaram-se para fazer um grande acordo com diversos objetivos diferentes. O que eu quero ressaltar é a parte do acordo de conciliação política.

No caminho tinha uma pedra (ou no caminho tinham duas pedras e uma tentativa de acordo)

Ao final da II Guerra encontraram-se no meio da Alemanha os dois grandes inimigos: capitalistas e comunistas. Naturalmente deveriam se enfrentar nesta fronteira da mesma forma que vinham se enfrentando desde 1919. Mas o mundo não tinha mais condições de continuar uma guerra, pois o enfrentamento nuclear resultaria em mais uma grande catástrofe mundial.

Do ponto de vista político-econômico, tanto para os comunistas quanto para os capitalistas, o melhor seria evitar a guerra e tentar ampliar as suas fronteiras político-econômicas.

De imediato os capitalistas fizeram um gigantesco investimento para garantir a recuperação econômica de dois países importantes, do ponto de vista geopolítico: Japão e cerca de metade da Alemanha. A Rússia, na expulsão dos nazistas do leste europeu, tinha ampliando a sua zona de atuação em diversos países, construindo a URSS.

Desde a crise de 1929, principalmente na Europa, os comunistas fizeram várias tentativas de tomar o poder de forma insurrecional, como na Alemanha, França, Itália e Espanha, por exemplo. Para os capitalistas este acordo político tentava mitigar as ações destes grupos.

Para os comunistas o acordo visava a sobrevivência da URSS, que vinha sendo bombardeada ininterruptamente desde 1919. Também tentava garantir a sobrevivência dos partidos comunistas pelo mundo. Com este acordo os partidos comunistas mudariam suas atuações utilizando então as eleições burguesas para ascender ao poder governamental.

Luta-de-classe (ou briguinha-de-classe)

Sai a ideia de “revolução comunista” e entra a “eleição comunista”. Na Europa a adesão dos partidos comunistas foi significativa. Mas nem todos os partidos comunistas pelo mundo reafirmaram esta política conciliatória de sobrevivência. Muitos julgaram que alinhar-se à URSS poderia significar abrir mão de atuações políticas locais. Tornaram-se partidos comunistas não alinhados. Um partido alinhado pode acabar não podendo tomar decisões independentes, pois podem interferir nos interesses locais da URSS.

A luta-de-classes tem estágios diferentes. A luta-de-classes na Europa está em um estágio diferenciado da dos países “colonizados”. Então a luta política se dá de maneira diferente em cada local. A luta política insurrecional pode não ser um instrumento na Europa, mas sim nos países latino-americanos, africanos e asiáticos, por exemplo. O alinhamento tenderia a tirar a independência dos movimentos políticos locais em favor de uma política mais geral da URSS. E foi o que aconteceu.

As flores de plástico não morrem

As flores não nascem onde as condições não sejam favoráveis. Na eleição burguesa não há espaço para a revolução comunista. Afinal, qual é a tarefa de um governo constituído de comunistas para gerenciar uma economia capitalista?

Surge então a consolidação da ideia de construção política de reformas em etapas. Assim se daria a transformação de uma política econômica capitalista em uma política econômica comunista.

Surge o movimento comunista reformista que influenciaria diversas linhas políticas. Em função desta mudança de paradigma, algumas terminologias mudaram de significado: socialismo e socialdemocracia. Estes termos tinham significados políticos bem diferentes.

Progressistas?

A limitação de atuação dos antigos partidos comunistas levou o movimento popular a certo declínio. A luta política tornou-se mais eleitoral e com períodos definidos de acirramento. As regras de atuação passam a obedecer à preservação da própria democracia burguesa. Uma verdadeira “luta-sem-classe”.

E foi neste marasmo e vácuo político que cresceram os socialdemocratas, os socialistas, os trabalhistas e outras linhas que atualmente são denominadas “campo progressista”.

Neste início do Século XXI, a socialdemocracia ascendeu a governos na Europa e América Latina. Alguns se autodenominavam socialistas. Uma grande ilusão simbólica de emancipação da classe trabalhadora. Ao longo destes governos o tradicional abandono da luta-de-classes pela socialdemocracia criou governos conciliatórios que pareciam avançar a conjuntura, tal qual a ideia reformista.

Migalhas mínimas

Como não existe espaço vazio na política, no Brasil, a socialdemocracia também nasceu por causa da pouca atuação política dos partidos comunistas.

Elegeram seu presidente da república e construíram o seu projeto conciliatório. O movimento sindical e popular foi arrefecido para evitar constrangimentos ao governo. Programas de “bolsas-marmitas” traziam uma horda de novos consumidores às urnas, ao longo de mais de uma década.

Consumidores não são base ou militantes políticos. Arrefecer os movimentos faz parte do movimento conciliatório, tal qual vimos no acordo entre os capitalistas e comunistas após a II Guerra. Acaba minando as próprias forças populares que são os agentes e beneficiários do avanço social. O que vem em seguida é um governo fascista que se aproveita da fraqueza da socialdemocracia. No final das contas o Reformismo devolve à burguesia os seus direitos originais no capitalismo.

No caminho havia muitas pedras e o reformismo tropeçou em todas

A atual socialdemocracia tem limitações da atuação na luta-de-classes e é traída pelos seus aliados burgueses. Mas não o faz por um espírito de traição, mas pela sua limitação de atuação. Se avançar mais do que isto deixará de ser socialdemocracia.

O Reformismo, adotado no final da II Guerra como instrumento de proteção à URSS, ainda é a via mais tentada pela maioria dos partidos considerados “progressistas”. Atrasou tanto o movimento político que vemos como a proposta econômica da grande maioria dos partidos comunistas a defesa do capitalismo desenvolvimentista.

Reformismo não é avanço, mas um retrocesso…

Por isto temos uma esquerda perdida no Brasil.

Pandemia e a morte dos indesejáveis

março de 2021

Boa origem

Desde o Século XIX circula uma ideia, entre alguns médicos e cientistas, de “purificar” a sociedade de “seres indesejáveis”. Naquela época os alvos desta eugenia (que em grego significa “boa origem”) eram pessoas com alguma deficiência mental, crianças com algum problema grave de saúde e deficientes físicos. Tinham como fundamentação teórica o conceito de seleção natural de Charles Darwin. 

Esta ideia eugenista foi bastante disseminada por Francis Galton, antropólogo e primo de Darwin, a partir de 1883. Galton queria comprovar que a capacidade intelectual seria hereditária. Assim justificava o extermínio de negros, imigrantes asiáticos e deficientes.

O objetivo de suas teses era aperfeiçoar a raça humana. Além das exclusões, Galton também sugeria que fossem evitados cruzamentos com seres humanos “indesejáveis”.

Galton estendeu as implicações da teoria da seleção natural, indicando que os seus estudos demonstravam que além da cor dos olhos, feição, altura e demais aspectos fisiológicos, também traços comportamentais, habilidades intelectuais, poéticas e artísticas seriam transmitidas dos pais aos filhos.

Exportação para o Brasil

O Brasil adotou a ideia e criou um movimento interno de eugenia. Médicos, engenheiros, jornalistas e a elite intelectual vislumbraram a eugenia como ‘solução’ para o desenvolvimento do país. 

Os negros eram responsabilizados pelas epidemias no país e a elite brasileira pregava a eugenia como um instrumento de “higienização-social”.

O Dr. Renato Kehl, renomado médico brasileiro, acabou se tornando o pai da eugenia no país.  Ele pregava a melhoria racial com um projeto de predomínio da raça branca.

Mas não só os cientistas e médicos aderiram ao movimento eugenista. Donos de jornais de grande circulação, membros da Academia Brasileira de Letras, fundadores de faculdades de medicina (Homenageado com uma avenida em São Paulo denominada Doutor Arnaldo) e o renomado escritor Monteiro Lobato.

Monteiro Lobato escreveu um livro denominado “O presidente negro – o choque das raças” que narrava a história de um homem negro que teria virado presidente dos Estados Unidos da América (no ano de 2228) e ironicamente teria unido os brancos para exterminar todos os negros do país.

Após lançar este livro, Monteiro Lobato envia uma mensagem para Renato Kehl:

“Renato, tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo. Precisamos lançar, vulgarizar estas ideais. A humanidade precisa de uma coisa só: poda. É como a vinha”.

Fonte: Lobato.” in História Viva , edição 49 – Novembro 2007 Eugenia, a biologia como farsa, por Pietra Diwan.

A eugenia nazista

Na Alemanha nazista um grupo de médicos e cientistas desenvolveu um projeto para “purificar” a sociedade germânica de “seres indesejáveis”. Eram indesejáveis não apenas os deficientes, negros etc. Os judeus também. Vivenciaram a sua Shoah (em hebraico significa catástrofe) com a morte de um milhão de crianças, dois milhões de mulheres e três milhões de homens. 

Sem fugir do espectro de fria crueldade, vimos uma condução irônica da purificação da raça ariana através de Hitler, Goering e Himmler que não eram arianos. Todos tinham deficiências indesejáveis.

Os economistas eugenistas

Mas o mundo avançou e o elenco de indesejáveis se ampliou. Os pobres, de qualquer raça ou cor e os que não geram nem consomem capital, entraram no grupo dos extermináveis. Trata-se de uma eugenia social. 

O liberalismo, na sua fase atual, não se interessa por quem não se torne um capital. Se não é ou gera capital é descartável. Mas o descartável tem custo. O pobre, o aposentado e o desempregado, por exemplo, geram custos ao Estado, aos bancos e às grandes corporações. Melhor seria se eles não existissem.

As guerras, a fome e a miséria são instrumentos razoáveis para o extermínio gradual e a diminuição de alguns custos. Mas uma epidemia virótica pode ser mais eficaz.

Pan-eugenia

Mas uma pandemia virótica aguda, desconhecida da medicina, tratada por sistemas de saúde colapsados, pode ser um grande instrumento. Não precisa gastar nada para exterminar os “indesejáveis”. É só não fazer nada. Nada de protocolos sanitários e nada de vacinas. Se possível, disseminar que as vacinas são perigosas e não imunizam.

O movimento eugenista não é exclusivo dos nazistas, mas eles ainda são os maiores especialistas.

Pandemoney

Uma pandemia também pode ser um bom negócio se for divulgado que alguns remédios podem curar a doença. Se a pessoa se curar, pode até achar que foi por causa de algum destes remédios. 

Ainda há outro aspecto pouco discutido. Na pandemia, várias empresas estão quebrando, principalmente as pequenas e médias. Mas muitas, principalmente, grandes empresas, cresceram e lucraram muito. Estas vão “engolir” as que quebraram. Assim como na crise de 1929 onde muitas empresas quebraram, mas foram criadas as maiores fortunas da época. 

Guerra é negócio. Crises financeiras provocadas (como as de 1929, 1979 e 2008) são negócios. E agora, pandemia também é negócio. 

Aos leitores

Leon Ayres

Sei que este texto pode aparentar uma teoria da conspiração ou exagerado. Se duvidar ou não, pesquise. O que não podemos é nos refugiar na ingenuidade do provocado desconhecimento.

As nossas responsabilidades e compromissos com a humanidade devem se refletir em ações para que exterminemos este indesejável projeto eugenista.

O que ganhamos com as eleições nos EUA?

(Leon Ayres em 14/11/2020)

A política não é uma novela de conflito entre pessoas, é um conflito entre as classes sociais. No caso da burguesia internacional, há um conflito interno que gera guerras de rapina, ou seja, onde se disputa a caça.

America first

Quando falamos destas guerras não devemos considerá-las como atos de conflitos de relações exteriores, como nos querem fazer crer. Parecem países em conflito por valores democráticos etc. Não é isto, e sim uma cortina de fumaça para disfarçar seu verdadeiro intuito: atos para minar a concorrência e desenvolvimento político-comercial.

A ação militar e sua expressão máxima, a guerra, são instrumentos de afirmação de interesses político-comerciais. Neste sentido os EUA vêm fabricando guerras para garantir seus interesses, sejam pelos democratas e/ou republicanos. E em várias situações fizeram as guerras de comum acordo.

O “America first”, verbalizado no governo Trump, foi utilizado na prática por todos os governos que o antecederam. 

Guerras bélicas e comerciais

Os democratas, quando constroem suas guerras, visam prioritariamente atrapalhar o desenvolvimento dos seus grandes rivais comerciais, a China e a Rússia. A China é o seu maior parceiro e inimigo comercial. Uma contradição complicada de lidar. A China é quem mais compra dos EUA e os EUA são os que mais compram da China. Uma sinuca de bico, difícil de resolver. Além do mais, existe uma parte significativa da indústria americana que tem suas filiais ou matrizes na China. 

Então estas corporações americanas que ganham muito dinheiro na China não querem que a ela se dê mal, pois também afetaria seus negócios. Quando recentemente os EUA compraram máscaras da China, nesta pandemia, compraram de empresa americana sediada na lá. Nem tudo “made in China” é chinês! Pode ser um produto americano. Americanos recorrem aos Russos, como aliados, para ajuda-los neste xadrez comercial. Nas últimas eleições os russos até ajudaram no processo eleitoral do Trump.

Russos e chineses são inimigos históricos. Estar do lado da Rússia pode ser uma boa tática para minar os chineses. Mas isto não quer dizer que tudo se arranja entre o EUA e a Rússia. De vez em quando aparece uma Ucrânia para atrapalhar. Negócios são negócios, alianças à parte

Países não são amigos, apenas têm interesses comuns. Por isso fica cada vez mais irônico e difícil de entender os motivos das guerras atuais

É irônico os americanos fazerem aliança com os russos, que desfilam nas comemorações exibindo bandeiras com foice, martelo e as fotos do Lênin. 

Assim como também é irônico levarem para a terra de Mao Tsé Tung, e destes atuais “antidemocratas comunistas chineses”, as suas grandes corporações.

“No meio do caminho tinha uma guerra, tinha uma guerra no meio do caminho”.

Os democratas são muito experientes na criação de guerras de interesses político-comerciais. Estes conflitos bélicos são criados exatamente onde a China e a Rússia escoam seus produtos e serviços. Criam guerras com os países que viabilizam parte de seus negócios com a China e a Rússia. São países onde passam rotas comerciais, de petróleo e gás. 

Até há pouco tempo os democratas e republicanos fizeram estas atuações de forma conjunta. Joe Biden foi um articulador fundamental, dentro dos quadros democratas, buscando a união com os republicanos nas invasões e destruições de vários países. Como, por exemplo, no caso do Afeganistão (antigo aliado narcotraficante de ópio e heroína, que ajudou a expulsar os russos), da Líbia e do Iraque (antigo aliado contra o Irã). Negócios são negócios, alianças à parte. 

As novas tentativas de guerras comerciais

O governo republicano do Trump seguiu caminhos diferentes. Durante a sua primeira campanha à presidência criticou muito estas invasões, pois não trouxeram lucros comerciais para os EUA e ainda possibilitaram a criação de um grande inimigo na época, o Estado Islâmico.

A tática de Trump era fazer guerras comerciais através de frentes com países de diversos blocos. Isto gerou um conflito interno nos EUA, tanto com os democratas como com parte dos republicanos. 

Houve certo racha entre os republicanos, que atuavam belicamente há muito tempo. Para acalmar esta indústria, que também lucra com as guerras, o governo Trump comprou uma quantidade de armamentos que compensariam as perdas comerciais. Eram as “armas que não atiravam”, segundo os críticos da política Trump.

Estas guerras comerciais não deram certo. Não houve a adesão esperada. Trump conseguiu fazer com que países mais fracos, econômica ou politicamente, aderissem a esta guerra comercial, mesmo que tivessem prejuízos nacionais.

Temos como exemplo, o atual governo brasileiro: dá para entender a sua postura, que não é de admiração aos EUA, mas de mendicância por migalhas de apoio dadas pelo Trump. 
Estes subalternos políticos, para manterem-se no poder, se utilizam do fascismo, nazismo, populismo de direita ou os três juntos. 

Trump conseguiu que o Brasil fizesse “uma cena” de conflito Brasil e China para ele fazer a sua atuação comercial. Quando o Brasil deixou de comercializar o agronegócio com a China, quem vendeu para os chineses? Os EUA. Negócios são negócios, alianças à parte. Países não são amigos, apenas têm interesses comuns.

Existem alguns projetos comerciais que estão em plena ascensão, como por exemplo, a Rota da Seda (sim, parece um projeto da antiguidade, mas é um dos grandes projetos sustentáveis chineses para este século) e o Projeto Eurásia, onde a Rússia e a Turquia e mais um conjunto de outros países do oriente médio, fazem acordos comerciais com a Europa. 

Russos e chineses são aliados e concorrentes dos EUA. Mais concorrentes que aliados. 

Mas as alianças que o governo Trump propôs não deram certo. A França, por exemplo, não está na mesma situação que o Brasil, pois tem um governo independente (liberal ou socialdemocrata) e seus próprios acordos comerciais que dão lucro. As táticas de formação de guerras comerciais do Trump geraram um grande isolamento comercial para os EUA. Isto vai deixar sequelas por um bom tempo.

Feliz está a China que ampliou sua atuação comercial. Para os chineses, os EUA terem o Trump como presidente foi um bom negócio. O Trump se atrapalhou na sua política. Os chineses aprenderam a dominar o “diabo conhecido”.

Os democratas são mais perigosos para os chineses, porque fazem guerras com pólvora e geram um estrago muito grande em vários de seus aliados (sejam políticos ou comerciais). 

A rica extrema-direita americana financia a todos

É uma grande ingenuidade, ou falta de informação, imaginar que a rica extrema-direita financia apenas o Trump e os republicanos. 

A Corporação Koch Brothers, por exemplo, que financiou Trump, também financia os democratas e grande parte da base parlamentar americana, que é católica.

Em setembro de 2015 o Papa Francisco, fez um discurso no Congresso dos Estados Unidos. Uma nova pesquisa do Fórum Internacional sobre a Globalização (IFG) revela que o bilionário do petróleo Koch Brothers gastou pelo menos US $ 23 milhões para eleger 62 congressistas católicos. 

Os Koch Brothers estão em sétimo lugar entre os grupos bilionários do mundo. São descendentes políticos do ex-senador paranóico anticomunista Joseph McCarthy. 

A Koch Brothers tem como um dos seus maiores negócios o petróleo. Possuem diversas  refinarias nos EUA, madeireiras, indústrias de papel e é dona de marcas como, por exemplo, a poderosa Lycra.

A Charles G. Koch Charitable Foundation, organização para financiar programas de ensino e pesquisa, fez doações a cientistas para disseminar que a mudança climática é um fenômeno natural, não causada por atividades humanas. 

Outra área de atuação é o armamentismo. Doam milhões à National Rifle Association (NRA) e fazem vários lobbies para combater restrições à posse e porte de armas. São conhecidos militantes racistas no combate aos direitos civis. São grupos, muitas vezes armados, que atentam contra cidadãos negros americanos. Quem assistiu o filme “Infiltrado na Klan” viu na sua última cena uma ação real contra os negros montada pelos Koch Brothers. 

Aqui no Brasil financiam os movimentos “Estudantes pela liberdade” e “Movimento Brasil Livre (MBL)”. E vale observar que o MBL rachou com o Governo Bolsonaro, que é considerado de extrema-direita. Pode parecer incoerente, mas não é. A extrema-direita não se resume a um grupo de milicianos momentaneamente bem sucedidos. A análise tem que ser política e bem mais aprofundada.

Os nazistas não perderam a guerra, estão atuando entre nós e principalmente nos governos americanos. Quem perdeu a guerra foram os alemães. Os nazistas foram para os EUA e, já de cara, criaram todo programa espacial americano no governo Kennedy, fundamental para o desenvolvimento da maior indústria de guerras da história da humanidade.

Toda esta dissertação sobre a atuação da extrema-direita americana visa desestimular este frenesi de vitória da democracia aludida às eleições americanas. 

Relembrando Einstein, que dizia “Nós não podemos resolver um problema, com o mesmo estado mental que o criou”, não imaginemos que superaremos a luta contra o nazi-fascismo a partir do país que os acolheu e financia grande parte de sua política entre os republicanos e democratas. Trump não foi o primeiro nem Biden será o último. 

O que há de positivo na eleição americana

Estamos vivendo um período onde os símbolos são mais significativos do que a análise político-econômica.

Uma mulher negra ser eleita vice-presidente é um bom símbolo. Ajuda a dar coragem e perspectivas a uma série de movimentos necessários para a emancipação das mulheres e dos negros na construção de uma sociedade mais justa e mais humana. 

Tirar da presidência um presidente que privilegia o patético também é bom, pois, em tese,  dá menos força direta a alguns grupos de extrema-direita em países como o Brasil. 

Mas não vamos nos iludir de que o que se deseja construir é um mundo melhor. Na fase atual do capitalismo, a destruição da sua base produtiva mais frágil não é um problema. 

Vamos ver políticas que não se importarão com o aumento da pobreza e serão até eugenistas, eliminando “custos desnecessários” e “seres inferiores”; uma visão recorrente do nazismo.

Aqui no Brasil, com a eleição de Biden/Harris, podemos aproveitar para fortalecer os movimentos das mulheres e negros. Mas, na minha opinião, o mais importante, neste momento, é lutar pela criação de uma democracia que nunca existiu: um governo popular-democrático. É um dos passos mais fundamentais para avançar na conjuntura e lutar pela emancipação do povo brasileiro.

Os governos da socialdemocracia brasileira abdicaram dessa proposta pela democracia burguesa. 

O desenvolvimento do capitalismo distópico

Leon Ayres (abril de 2019)

Trabalho e lucro

O lucro, segundo Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx, é a apropriação da mais-valia através da cadeia produtiva da economia. 

Smith considerava que o lucro estava associado à propriedade privada do capital. A  renda de um empresário dependia do volume dos seus investimentos. Para ele, o lucro é criado pelo mercado pela lei da oferta e da procura. 

Para Ricardo, a renda do empresário é o que sobrava depois de pagar os salários e os custos de produção. Quanto maiores os custos salariais, menores seriam os lucros. Nesta teoria, a qualificação do operário traria melhores taxas produtivas e melhores salários.

Marx utiliza a compreensão de Ricardo, mas considera que o desenvolvimento da técnica individual utilizada na produção não aumenta a produtividade nem os salários. Ele coloca o trabalho como parte da mercadoria a ser produzida, sejam produtos ou serviços. As características das técnicas de produção coletiva, assim como as forças políticas e econômicas é que vão definir o valor dos salários. Isto seria resolvido na luta-de-classes, onde quem tiver mais força conseguirá impor melhores lucros ou salários.

Estas teorias vêm sendo utilizadas nos últimos cem anos e têm balizado as correntes político-econômicas. Veja o artigo “Do liberalismo utópico ao liberalismo científico”.

Capitalismo desenvolvimentista 

Esta fase do capitalismo tem como fundamento a apropriação da mais-valia através da cadeia produtiva da economia. O trabalho gera os produtos e serviços.

Desta forma, para alavancar a economia, será necessário que a massa de operários tenha empregos e bons salários. Com bons salários haverá compras de bens e serviços. O comércio alavancado faz encomendas nas indústrias que conseguem aumentar a sua produção. O setor de serviços cresce em função da melhoria geral e ajuda a alavancar a economia. O setor agrário e a pecuária são beneficiadas pelo mercado interno.

Este tipo de capitalismo foi adotado pela socialdemocracia do pós-guerra, como forma de conciliar a luta-de-classes (pacto social) e distribuir os lucros entre os empresários e operários de forma que beneficiassem aos dois. 

A Alemanha, tendo o tipo de governo que for, sempre adotou este tipo de capitalismo internamente. Bons salários, bom comércio, uma boa política industrial e bancos estatizados.

Estatizados? Os banqueiros foram expropriados pelo Estado? Não, banco estatizado é um banco que tem a obrigação de investir em produção. Os municípios alemães traçam as políticas de investimentos dos bancos conforme as características das regiões onde atuam. As regiões têm suas aptidões produtivas. Os bancos investem nessas aptidões. No Brasil, quem disser que gostaria de ver os bancos estatizados seria taxado de comunista. A Polônia adotou esta mesma política de obrigar os bancos a investirem conforme as políticas de produção baseadas nas aptidões de suas regiões e tem passado ao largo da crise econômica mundial. A Polônia, inclusive, tem um governo de extrema-direita.

Nestes países os bancos não reclamam. Têm uma margem de lucros menor, mas têm garantia que o país não passará por sobressaltos e poderão criar políticas de médio e longo prazo.

As “crises” capitalistas

Após a “crise”, ou calote, de 1929 o mundo passou a regulamentar a economia para evitar novas “crises”. Este acordo de regulação começou a ser negociado no Tratado Bretton Woods. Uma série de regras foram criadas para dar aos norte-americanos a legitimidade e hegemonia financeira e econômica. Neste período foi criada a paridade ouro-dólar, tornando esta moeda a referência internacional. 

Quando a Europa avançou na criação do seu bloco econômico, que se tornaria a União Européia, criou a sua moeda internacional, que atualmente se chama Euro. Neste período, o governo Nixon quebrou unilateralmente o acordo de Bretton Woods e o valor do dólar passou a ser flutuante, baseando-se na sua relação com o petróleo. Ou seja, novas “crises” (ou calotes) à vista. O primeiro deles, a crise do petróleo. Quem tinha dólares e pouca força econômica, “perdeu”.

Nos governos Busch, pai e filho, a regra era acabar com as regras. Sistema financeiro livre para provocar as “crises” que achassem conveniente para aumentar os lucros através da acumulação de capital. Bolhas econômicas permitidas, assim como investimentos sem o mínimo de controle. Surge então, em 2008, a “crise” imobiliária americana. De volta à 1929, onde o capitalismo rentista, que não é obrigado a investir em produção, volta a lucrar às custas de uma tragédia financeira, industrial e aumento mundial da pobreza.

O capitalismo rentista ressurge com força e se opõe ao capitalismo desenvolvimentista.

Capitalismo rentista

Seu desenvolvimento se consolida entre a Década de 70 e 80. Os governos Busch fazem a sua parte. Enquanto Busch filho enchia a cara de whiskey o seu vice Dick Cheney enchia os bolsos dos rentistas. O mundo via ressurgir o rentismo, agora em sua fase mais rica e poderosa.

Nesta fase, o capitalismo começa a prescindir das forças produtivas para alavancar sua acumulação de capital. Ao invés de criar as condições para melhores salários, melhoria do comércio e da indústria, os rentistas vão direto no bolso dos mais fracos e tiram o capital. Através das grandes corporações financeiras, geram investimentos em papéis, que geram mais investimentos e lucros sem que haja nenhuma contrapartida em produção. É o capital financeiro gerando apenas capital financeiro.

Acumular capital ocupando os governos, traçando políticas de drenagem do capital das indústrias e bancos mais fracos é bem mais rápido do que alavancar a economia pelo modelo desenvolvimentista. O processo desenvolvimentista é mais sólido, porém mais lento. Por que esperar tanto tempo? Como se dizia em 1929, “quem tem dinheiro manda”.

Mas o rentismo também cria condições conflitantes para o capitalismo. Daí surge a verdadeira crise para o capitalismo, a deterioração das forças produtivas. As indústrias perdem sua capacidade produtiva (desindustrialização), o desemprego aumenta, os salários diminuem e o comércio vende menos. Este é o neoliberalismo que surfa nas ondas da globalização, acumulando capital através do rentismo em todo o planeta.

Surgem os “novos donos do mundo”, imperadores que, através das suas grandes corporações, dominam e sugam o sangue de uma série de países. Em 2001 esta odisséia não se dá apenas no espaço, pois são donos das maiores empresas de tecnologia, mas também na interferência direta nas políticas dos países e nações, criando guerras e movimentos separatistas. Destruir ou separar, para comprar barato, vender serviços de recuperação através da engenharia, endividar as populações através de créditos bancários, comprar o futuro dos povos através de aposentadoria privada que nunca ocorrerá, vender celulares e desejos, esta é a política adotada pelas grandes corporações. No início do Século XXI os novos donos do mundo tinham cerca de um quatrilhão e duzentos trilhões de dólares para comprar à vista o que quisessem. Isto é cerca de vinte e cinco vezes o PIB do mundo. Daria para acabar com a miséria, a fome, as doenças em todo o mundo e ainda continuarem trilionários!

Capitalismo-de-Estado

A China, que é mais inimiga dos russos que dos americanos, fez uma opção diferente para o desenvolvimento capitalista. Adotou o que nos anos oitenta se denominava capitalismo-de-estado. Trata-se de um desenvolvimento capitalista planejado e controlado pelo Estado. 

Após a tomada do poder pelos Maoístas, foi decidido como política prioritária o desenvolvimento do setor primário para alimentar a sua grande população que se encontrava em estado de miséria. 

Para alavancar a acumulação familiar da riqueza no campo, no final do Século XX, a China adotou a propriedade privada no campo. Para fortalecer o mercado interno a China criou o sistema previdenciário. Desta forma, ao invés do cidadão chinês “guardar o seu dinheiro debaixo do colchão”, ele poderia aderir ao sistema previdenciário e poupar o que estava guardando como reservas. A poupança alavanca investimentos e cria um mercado consumidor.

No segundo momento a China decidiu investir no seu setor secundário, através de joint-ventures.  Eram parcerias entre o governo chinês e empresas multinacionais, que permitiam que estas indústrias recebessem incentivos para montarem suas estruturas produtivas na Mandchúria. A mão-de-obra era muito barata e não se pagava pelo local onde eram construídos os parques industriais. A exigência era: entra capital e saem produtos. Remessas de lucros eram taxadas de forma severa. As empresas se tornaram grandes exportadoras, os salários melhoraram e a China começou a incorporar tecnologias. O mundo reclamou muito dos chineses acusando-os de copiar produtos e vender por um preço mais baixo. O setor secundário chinês cresceu muito e hoje tem tecnologia para fazer produtos mais baratos, tanto de baixa quanto de alta tecnologia. A China também desenvolveu tecnologia militar capaz de manter suas disputas apenas no campo comercial.

Uma das características do capitalismo-de-estado é que o Estado cuida para que o investidor e empreendedor industrial tenham mais garantias de sobrevivência. O próprio Estado indica quais setores estão mais favoráveis para crescimento e neutraliza as ações predatórias das empresas maiores que acabam engolindo as mais fracas. Com isto a China pôde planejar e controlar o seu crescimento que já esteve a onze por cento ao ano!

A China entrou no mercado financeiro e industrial internacional com uma proposta um pouco diferente. Criou um banco que empresta dinheiro a juros bem mais baixos e faz parcerias econômicas diferenciadas das grandes corporações. O objetivo das grandes corporações é acumular rapidamente o capital e comprar quem faz negócios com elas. A China empresta dinheiro mais barato, faz parcerias comerciais e tecnológicas visando o desenvolvimento do parceiro comercial. Em troca, a exclusividade nos negócios. O Negócio da China prosperou. 

Esta é a política capitalista que ameaça aos norte-americanos, que vêm perdendo espaço comercial há alguns anos. Por isto os BRICS têm que ser destruídos, gritam todos os governos americanos. E nesta hora os russos são grandes aliados.

Mas há uma grande sinuca-de-bico nesta história. Os chineses são os maiores parceiros comerciais dos norte-americanos e os EUA são os que mais compram da China. Um não pode destruir o outro. 

Um novo conflito imperial

O capitalismo do Século XXI herda a deterioração das suas forças produtivas, a voracidade pela acumulação incessante do capital e seus conflitos internos.

Estamos vendo em quase todo o mundo um movimento político que está se tornando um grande desafio. Não é algo muito fácil de compreender. É o capitalismo em sua nova fase, pós-neoliberal e com sequelas trazidas pela globalização.

A voracidade pelo acúmulo de capital é inerente ao desenvolvimento do capitalismo. Se ele para de se alimentar, morre. Os novos donos do mundo sabem disso e atualmente combatem todos aqueles que não estiverem dispostos a alimentar, na boquinha, este tubarão branco faminto. Sabem que qualquer retrocesso na acumulação de capital poderá representar prejuízos financeiros que os colocarão em risco diante dos seus concorrentes  financistas. Um tubarão faminto pode devorar um outro da sua mesma espécie. 

O modelo desenvolvimentista que é predominante na socialdemocracia, obviamente, também representa perigo para os financistas. Para alavancar a economia gerando empregos, salário e industrialização, o modelo desenvolvimentista socialdemocrata tem que recapitalizar e fornecer crédito para os operários. Isto representa drenar capital do sistema financeiro para a população assalariada. 

Por isso o capitalismo financista está empenhado em eleger setores retrógrados, em diversos países, que ficam à serviço das corporações como garçons ávidos por gorjetas. Este tipo de atuação é muito antigo, fez parte das táticas formadoras das ditaduras latinoamericanas, africanas e asiáticas.  

O neoliberalismo trouxe sequelas para parte das forças econômicas que não participaram do banquete da globalização. Produtores pequenos e médios, em diversos países, foram prejudicados.  

Nos EUA, estes produtores foram afetados após a “crise” de 2008. Quando os EUA saem de uma crise econômica, crescem entre três e quatro por cento. Nesta última o crescimento foi pífio. As grandes corporações ganharam com a “crise”, mas o pequeno e médio perderam. Isto gerou o descontentamento aproveitado nas últimas eleições presidenciais. O que ganhou as eleições não foram as fake-news nas redes sociais, foi a base política do interior do país que foi prejudicada nesta manobra globalizada. Por esta razão estamos vendo nos EUA um movimento nacionalista mais forte. Foi assim que os republicanos aproveitaram esta oportunidade de retornar ao poder através de um discurso nacionalista de reconstrução dos EUA. Não foi a direita quem deu força ao Trump. Foi a conjuntura em declínio, com quedas de produção e reduções salariais, que fizeram brotar uma visão nacionalista e o reaparecimento da extrema-direita americana.

Para estes setores econômicos não é muito bom participar da globalização. Esta cria regras comerciais que facilitam a vida das grandes corporações, mas prejudicam os pequenos e médios. Produzir e comercializar só é fácil para quem está na hegemonia da globalização.

E este conflito de interesses entre os que não se beneficiam da globalização também está acontecendo na Europa. 

No Reino Unido, o empreendedor inglês, que construiu a sua empresa e alavancou o seu país, agora tem que se curvar às regras da União Europeia. Regras que favorecem mais aos empresários alemães e franceses do que a ele. Regras que também pioraram a sua produtividade e estão rebaixando o poder aquisitivo da população de classe média, média e baixa principalmente. Então grande parte da população preferiu sair da União Europeia e voltar ao antigo modelo inglês. Mais uma vez, as quedas de produção e reduções salariais, fizeram brotar uma visão nacionalista.

Em todos os países onde o empresariado nacional está sendo prejudicado pela globalização a alternativa está sendo o movimento nacionalista. Não é a extrema-direita que está ditando o desenrolar do processo, atua apenas como uma doença oportunista. 

Rumo ao capitalismo distópico

Como vimos, o neoliberalismo e o capitalismo financista prescindem parcialmente das forças produtivas. Já há muita riqueza acumulada, é só drenar contiguamente para as veias das grandes corporações.

Mas é possível prescindir quase que totalmente destas forças produtivas em razão do avanço tecnológico. A robotização, a tecnologia da informação, a interação entre os equipamentos já são instrumentos de acumulação de um novo tipo de capital que ainda está obscuro. E para os novos donos do poder é melhor que assim fique.

A produção e o consumo de bens de alta tecnologia já ocupam grande parte dos ganhos de capital representados por bens de consumo. Está ficando cada vez mais barato, fazendo com que os lucros sejam exponenciados em um tempo mais curto. 

O que o novo capitalismo está prescindindo é do próprio ser-humano. Estes podem ser descartados como objetos inúteis se não se tornarem o novo capital. Para o novo capitalismo o ser humano, como um todo, já é um capital. Quanto menos capital o indivíduo representar, menos ele terá valor nesta nova fase.

Os civis mortos na guerra, os assassinatos de pobres nas cidades, as crianças desnutridas na África e várias outras mazelas enfrentadas pelo seres-humanos não são mais emotivantes e nem  mobilizantes. A morte, principalmente de quem não tem poder, não é mais um tabu. Neste cenário ressurgem as linhas que se identificam com este padrão ideológico resultante destas relações político-econômicas. O preconceito de cor,  atividade sexual e a classe social acentuam-se. Ressurgem os movimentos nazistas. 

A utopia pressupõe um futuro que será alcançado a partir de algumas rupturas com o presente. A distopia é um presente sem futuro vivido através da opressão. Estas são experiências de muitos povos neste momento e que não interessam a este capitalismo que alguns classificam como distópico. A perspectiva da distopia é a  humanidade experimentar os instrumentos de dominação dos que não são capitais econômicos: a opressão, o desespero e a agonia.

O que estamos vendo no mundo é uma disputa entre o capitalismo pós-neoliberal e o seu filho, o capitalismo distópico. É Édipo tentando matar o seu pai. Por isto vamos ver alguns setores liberais brigando com setores que são erroneamente classificados como extrema-direita. 

Para tentar reverter esta situação é necessária uma análise diferenciada. Não podemos fazer uma avaliação simplória achando que a  extrema-direita esteja dando a linha política e tomando o poder. Mesmo com o desaparecimento ou diminuição da extrema-direita, o capitalismo distópico ainda existirá. 

O capital tecnológico da informação

Imagina-se que os robôs humanóides um dia irão se virar contra a humanidade. Bobagem, estes serão inofensivos e se tornarão eletrodomésticos. Serão comprados no supermercado como os computadores atuais, que já fizeram parte do imaginário como futuros dominadores da humanidade. A robótica deve ajudar bastante a medicina, e neste caso, a sua utilização será extraordinariamente útil. Os robôs que dominarão a humanidade já existem, estão dentro dos celulares e por trás deles há apenas seres humanos e softwares. 

As pessoas vivem diante dos seus celulares e não sabem que estão sendo dominados por robôs. Eles não são visíveis. São softwares simpáticos, aparentemente inofensivos e usados para comunicação com as pessoas. Eles monitoram a vida das pessoas, conhecem seus costumes e desejos, sugerem produtos baseados nos seus símbolos e muitas vezes os hipnotizam. As pessoas não conseguem mais ficar sem olhar para eles e responder imediatamente aos seus avisos e chamadas. Gera ansiedade e compulsividade, que servem para alavancar o consumo de produtos, serviços e remédios. Um milagre para multiplicação de síndromes. Tudo isto é capital. Se você não é ansioso, nem compulsivo, não atende de imediato os celulares ou softwares, cuidado, você pode não ser interessante para este novo tipo de capitalismo. Então terá que ser um ser-humano independente!

Para o capitalismo distópico é necessário que o maior capital de todos, o ser-humano, deva ter seu cérebro dominado. É para aí que estamos indo. Vemos isto nos filmes de ficção científica, onde empresas do mal tentam dominar o cérebro das pessoas para dominar o mundo. 

Na vida real os donos do mundo estão fazendo o mesmo, com instrumentos diferentes que dos filmes de ficção científica, cujos donos das empresas do mal, são rejeitadas pelo público. Na vida real os donos dessas empresas, às vezes são considerados filantropos e alguns idolatrados. 

Do liberalismo utópico ao liberalismo científico

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“As aventuras da socialdemocracia na busca de sua identidade”

A socialdemocracia em 1 minuto

Ao longo de várias décadas, a socialdemocracia vem tentando ocupar seu espaço na luta politica. No início do século XX foi inserida nos movimentos revolucionários proletários, optando por um dos lados do conflito entre capital e trabalho.

Após a Segunda Guerra a socialdemocracia já perdera o seu caráter revolucionário, afirmando ser possível a conciliação entre o capital e o trabalho. Este pacto social propõe que a classe dominante retorne para os trabalhadores parte da mais-valia apropriada na produção de riquezas, assim como o arrefecimento da luta revolucionária trocando-a por outra, por melhorias de vida. Começaram as experiências com transferências desta mais-valia através de programas de ganhos remuneratórios proporcionais à lucratividade das empresas. Em tese, se a empresa lucrasse mais, os empregados também receberiam mais.

Este programa de distribuição de renda foi largamente experimentado na Europa, onde os trabalhadores da Volkswagen, por exemplo, obtiveram considerável melhoria dos seus padrões de vida.  Mas os donos e os trabalhadores da Volkswagen, dentro dos seus objetivos competitivos, também perceberam que ganhariam mais se não adotassem esta mesma política de distribuição dos lucros nas suas filiais em outros países. A Volkswagen no Brasil produz e exporta mais que a alemã. Através de arrocho salarial, a mais-valia dos trabalhadores da Volkswagen brasileira retorna para a matriz em forma de lucro. Para ser socialdemocrata na Europa necessita-se utilizar de políticas liberais na América Latina, por exemplo.

No Brasil a Varig operava um modelo onde, em tese, todos os seus funcionários seriam cotistas da Fundação Ruben Berta, empresa holding da Varig e as várias outras que compunham o grupo. Este modelo conceitual, nunca implementou uma política de participação nos lucros a partir do aumento de produtividade. A Varig sempre ofereceu ganhos indiretos e benefícios através dos serviços como descontos de passagem, restaurante a preço baixo e serviço médico nos locais de trabalho etc.

A socialdemocracia içou suas velas para navegar, mas pegou fortes ventos que balançaram o barco para a esquerda e para a direita. A economia capitalista tende à expansão em uma tentativa natural de transformar tudo em capital, para sua própria sobrevivência. Isto extrapola as forças de contensão socialdemocrata sobre o capitalismo, na sua intenção de torna-lo ”mais humano”.

Engels se esforçou em mostrar a visão ingênua e utópica de correntes políticas que acham que a classe dominada vai tocar o coração da classe dominante através de belos princípios humanistas. O liberalismo não é monolítico e nele também há uma corrente que acha que a classe dominante pode ter o seu coração tocado e “dividir o pão” para construir uma sociedade MENOS desigual e um capitalismo mais humano e estável. É a Utopia do liberalismo progressista.

De outro lado vemos um liberalismo conservador, expansionista, que domina a política macroeconômica mundial, através do mercado financeiro e das guerras, levando o capitalismo ao estágio do império dos oligopólios, previsto por Marx.

Fábrica de crises

O liberalismo é um sistema que se desenvolve a partir de uma percepção e foco na atuação individual e não coletiva, e por isto cria uma noção de direito individual e não de necessidade da coletividade. Esta ideia apoia a institucionalização da propriedade privada, apontando para visão econômica que visa a acumulação concentrada de riquezas.

O liberalismo autointitulado progressista acredita que o sistema capitalista deve se preocupar em evitar, ou minimizar, as desigualdades para fortalecer a economia. Para os liberais progressistas a acumulação excessiva de capital cria condições vulneráveis para o sistema capitalista, criando crises que propiciam mais acúmulo de capital por alguns poucos, gerando mais miséria e suas mazelas.

Os liberais conservadores (intitulado pelos liberais progressistas, de predadores) acumulam capital de forma rápida e incessante. Estes liberais são donos dos maiores bancos, instituições financeiras, indústrias bélicas e de alguns países também. Eles formam as grandes corporações que atualmente têm, em dinheiro, 1,2 quatrilhão de dólares disponível para comprar à vista. Isto é cerca de 20 vezes tudo que é produzido em todo o mundo! É o Hot Money, um dinheiro que vem rápido e totalmente disponível. Estes liberais conservadores financiam a eleição de vários governos que atuam como instrumentos de transfusão de capital das veias dos trabalhadores para as grandes corporações.

Segundo o analista americano de política e economia Thom Hartmann, a crise de 1929 (a Grande Depressão) trouxe diversos ensinamentos para estes liberais. Naquele período tudo se desvalorizou. Então, quem tinha dinheiro na mão comprou barato. Apesar de milhões de americanos ficarem desempregados, de a produção industrial cair pela metade e provocar a quebra de mais de 5.000 bancos, a crise criou as maiores fortunas americanas. Na época o lema era “dinheiro vivo manda”. Após este período, muitas medidas de controle do sistema financeiro foram adotadas para se evitar que uma nova crise acontecesse. Mas várias medidas foram derrubadas nos governos Reagan e Bush Jr. A crise de 1929 foi criada a partir de uma sistemática que vemos bastante nas propagandas das campanhas eleitorais nacionais pelos partidos políticos que se propõem à “modernização da economia”.

A descriminalização de drogas letais

Uma forma de você transferir renda do capital para o trabalho e vice-versa é através da tributação diferenciada dos impostos. Também é uma forma de você controlar a economia para que os que os que têm grande capacidade de acumular capital e comprar não criem situações críticas para o sistema como um todo. Impostos são a forma tradicional de transferência. Podem ser progressivos e às vezes até incidir sobre o patrimônio. Quando os impostos sobre os mais ricos estão abaixo de determinado patamar (nos EUA 50%) há um acelerado acúmulo de dinheiro, o Hot Money, que pode comprar tudo a preços baixíssimos e criam-se as bolhas de crescimentos artificiais que acabam desestabilizando a economia.

Na década de 20 os americanos propuseram a redução do imposto máximo de 91%, para milionários e bilionários, para 25%. Privatizaram órgãos e atividades governamentais, desregulamentaram vários setores. O lema era “menos governo nas empresas, mais empresas no governo”. Segundo os analistas econômicos americanos, estas medidas levaram ao crash de 1929.

As regras adotadas após a crise de 1929, para se evitar que uma nova crise acontecesse, sofreram modificações ao longo do governo Reagan. É derrubada a Lei Antitrust, que permitiu a crescente junção entre empresas, tornando-as monolíticas. Igualmente se beneficiaram da Reforma da Previdência, tirando dinheiro dos aposentados para o sistema financeiro. Outro mecanismo que beneficiou o ataque predatório foi a desregulamentação do sistema bancário americano.

Estamos diante de mais uma crise, que explodiu em 2008, mas começou antes, e que, segundo Thom Hartmann, criará em 2016 um novo crash. Para ele esta crise, assim como as outras são tecnicamente provocadas para acelerar o processo voraz de acúmulo de capital.

Nos EUA uma bolha no mercado de hipotecas propiciou a transferência de renda da classe média para o mercado financeiro através de investimentos em Derivativos.

Derivativos são investimentos financeiros que recebem esta denominação porque seu preço de compra e venda deriva do preço de outro ativo, um bem ou outro instrumento financeiro. Por exemplo: o mercado futuro de petróleo é uma modalidade de derivativo cujo preço depende dos negócios realizados no mercado a vista de petróleo, seu instrumento de referência. O contrato futuro de dólar deriva do dólar a vista, o futuro de café, do café a vista, e assim por diante. Estes investidores não são obrigados a divulgar publicamente o montante disponível em carteira. Trata-se de um tipo de investimento obscuro, e não apenas para quem está de fora.

O negócio, apesar de complexo, tem uma lógica bem simples, como em 1929.

Criou-se uma bolha com a elevação artificial do preço dos imóveis que levou a um crash que abalou a economia americana e mais uma dúzia de países, como pinos de boliche. Os investimentos Derivativos indexados pelo mercado de hipotecas despencaram. Imediatamente as grandes corporações mudaram de posição e investiram neste mercado. Ou seja, compraram a preços irrisórios. Em seguida compraram as casas que haviam se desvalorizado nesta crise. A empresa Blackstone Group (atuante nos mercados financeiro e bélico), em um dia, comprou milhares de casas em Atlanta. Subiram os rendimentos dos investimentos de Derivativos indexados pelo mercado de hipotecas. Mais um lucro com apenas uma operação. E por aí vai… As grandes corporações acumularam mais capital, transferido, nos EUA, da classe média. Estes investimentos em Derivativos, que permitem especulações que podem levar à pobreza boa parte da população mundial já foram considerados crime nos EUA! No governo Reagan a legislação foi modificada. Uma descriminalização de drogas letais! Segundo relatórios da ONG Oxfam International, após a crise de 2008 a desigualdade aumentou em todo o planeta enquanto dobrou o número de bilionários…

Deverão ser cerca de 10 anos de crise. Tempos favoráveis à radicalização dos movimentos políticos, que em época de crise, tentam aproveitar a conjuntura para uma tomada mais rápida do poder e mudar o modelo político, ou, em contrapartida, tentar garantir a preservação um modelo em desgaste ou obsolescência.

UFC Brasil: conflitos de interesses entre os liberais e socialdemocratas

No Brasil os liberais conservadores dominaram a economia desde o golpe civil-militar, estruturado em benefício dos liberais e operacionalizado pelos militares brasileiros.

A socialdemocracia brasileira se estruturou durante as lutas contra a ditadura. A maioria das organizações que combatiam a ditadura ainda não tinha percebido quais eram seus verdadeiros programas máximos em função de terem como foco mais importante o inimigo comum. Em um movimento de descontentes, nem todo mundo tem o mesmo projeto.  O MDB foi um ambiente favorável para o desenvolvimento de um centro político cultural para a modelagem da emergente socialdemocracia pós-ditadura. O tolerante MDB nasceu com a finalidade de abrigar diversas tendências políticas em suas fileiras. Com o avanço da conjuntura, os socialdemocratas foram ocupando o cenário político, com expressões como o sindicalismo de base operária industrial, o trabalhismo, o socialismo moreno, o social-liberalismo etc.

A socialdemocracia sindicalista nasceu do vácuo político deixado pelos partidos comunistas brasileiros, que ao se subordinarem a estruturas internacionais acabaram se alinhando com políticas que naturalmente focavam mais as lutas políticas internacionais que a realidade brasileira. Os partidos comunistas brasileiros ligados à Europa ou União Soviética, por exemplo, tinham que muitas vezes abdicar de táticas para enfrentamento da luta de classe em função de proteger algum enfrentamento ou negociação internacional.

A socialdemocracia sindicalista fundou seu partido, aglutinando, no início, diversas tendências políticas marxistas, anarquistas, trotskistas e religiosas, órfãos de uma frente política que as abrigasse. Este foi o período onde a luta política enriqueceu-se, criando uma nova política de formação de base partidária popular que os partidos comunistas naquele período também não adotavam, uma vez que os investimentos destes partidos, na sua formação ou em períodos de repressão, são na qualidade e não na quantidade dos quadros.

Com o avanço e o crescimento da socialdemocracia sindicalista, a luta interna se acirrou. A corrente que fundou o Partido dos Trabalhadores se viu ameaçada pelas outras de orientações marxistas que formavam um bloco para tentar a hegemonia. Esta disputa, ganha pela corrente fundadora, denominada Articulação, foi chamada de “revolta dos bagrinhos”, um marco para definição de uma hegemonia que colocou no programa partidário a definição do seu caráter formalmente socialdemocrata. Foi neste período que várias correntes de cunho marxistas racharam com o partido, ou foram expulsas. Outros partidos socialdemocratas foram sendo criados simultaneamente com alguma expressão, como o PDT, PSB, PSOL. Na socialdemocracia, modelos liberais considerados progressistas foram agregados ao programa mínimo de diversos partidos para alavancar a economia, utilizando mecanismos de distribuição de renda e lucro através do controle de impostos e programas de transferência de renda.

Não vamos nos confundir por causa das siglas partidárias. O PSD e o PSDB, apesar das letras S e D, são partidos predominantemente liberais. O liberalismo mais conservador criou sua zona de influência política se inserindo em diversos partidos políticos brasileiros de: direita ou liberais. Até 2002 os liberais conservadores dominaram as políticas econômicas no Brasil com seus lucrativos planos econômicos. O modo de operar dos liberais predadores no Brasil não é diferente do resto do mundo. E os vimos nos endividando internacionalmente, quebrando a economia brasileira e adquirindo ativos preciosos a preços irrisórios. Mesmo o “milagre brasileiro” foi uma armadilha. Ficamos muito endividados e mais dependentes do mercado financeiro internacional. No Brasil, o liberalismo conservador sempre foi hegemônico, apoiado nas grandes corporações.

A adoção de programas de transferência de renda, a partir de 2003, principalmente para a população que não representa lucro mais imediato, contraria uma série de interesses liberais das grandes corporações. Para a população interessa o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e para o grande capital o Superávit Primário (quanto o governo economizou para transferir para as corporações).

Em épocas de crise, alguém tem que arcar com o ônus. As corporações têm que manter seu desenvolvimento capitalista e acumular. A compensação, em prol das corporações, se dá através do não pagamento de salários, garantido o lucro ou minimizando prejuízos da competição capitalista. Ou seja, o desemprego como instrumento de deslocamento de renda do trabalho para o capital. A socialdemocracia sindicalista brasileira optou por não permitir esta realização de lucros através do desemprego, o que gerou um grande descontentamento, mesmo de setores liberais que vinham dando apoio ao governo.

Reproduzindo o cenário mundial, o Brasil apresenta uma rinha de liberais e socialdemocratas disputando o aparelho de Estado para defender seus interesses. Pela utópica e frágil fundamentação, os socialdemocratas e liberais progressistas têm que ceder nas negociações.

Para a socialdemocracia brasileira, a tática de sobrevivência seria ampliar seu espectro político com campos mais comprometidos, não apenas com a melhoria de vida, mas com a luta para reincorporar a renda desviada do trabalho para o capital.

A Nova Ordem Mundial

Os liberais conservadores, que já têm o capital financeiro e a indústria bélica, já se preparam para o acirramento do enfrentamento político-econômico, criando, como sempre, as condições para um novo crescimento do fascismo, como suporte e proteção dos seus interesses em período de mais fragilidade.

A destruição e reconstrução de países virou um grande investimento no mercado de derivativos, indexados por setores ligados a serviços e produtos de alta tecnologia. O sentimento nacionalista baseado no conceito de território está se fragmentando na África e no Oriente Médio. Quem sustenta a unidade destas nações são a religião e a etnia. Uma nova ordem mundial está sendo criada a partir da lógica dos oligopólios.

Há cerca de vinte vezes o PIB mundial acumulado nas mãos de alguns bilionários. Com um quarto desta quantia poderíamos acabar com o desemprego, a miséria, a fome, muitas doenças e as guerras, em todo o planeta.