“Voceu”

(para minha filha Marina Perez, no seu aniversário de 24 anos)

Acho muito importante que saibamos nos diferenciar dos outros para que possamos usufruir da nossa individualidade. Isto pode não ser muito fácil, mas é extremamente significativo em se tratando da educação, principalmente dos filhos.

Vivemos em uma sociedade que anda na direção de um pobre individualismo, do tipo americano, mas que também mostra sinais contestatórios (tipo as manifestações que estamos vendo). Isto é positivo e importante o suficiente para questionamentos.

Vejo você crescendo e amadurecendo com responsabilidade. Você também assume a responsabilidade dos outros. Bom para a sociedade que pode contar contigo. Mas é importante pensar em certas situações onde melhor é a dor do amadurecimento que a alegria do irresponsável. Deve-se diferenciar o “você” do “eu”.

Você nasceu com um brilho que atrai o olhar dos “menorezinhos”. Cuidar deles talvez seja uma missão mística e poética. Você é filha da terra e dela brotam as florestas que fincam suas raízes.

Neste seu aniversário, meu olhar me coloca diante de dois vieses: tudo aquilo que estabiliza a sua individualidade e o que não estabiliza. Sei que muitas vezes sou duro, mas sacrifico meu próprio desejo de ter ver gostando de mim, por estar tentando ajudar a você crescer, se livrando de qualquer dependência minha, para que possa exercer com liberdade a sua individualidade.

Não quero me identificar com você. Misturar você e eu é criar um “voceu”, um narcisismo ingênuo e infantil. Você é a continuidade de si. Seu aniversário é a celebração da sua existência e comemoração de tudo aquilo que você propiciou com ela. Ainda bem que você existe e insiste. Quero te amar e te gostar do meu jeito: você não sou eu, é você e eu.