Pela renovação no Datasus

Vozativabrasil, 29 de agosto de 2009

Uma das piores recordações da última gestão foi aquela greve onde alguém da direção chamou a Polícia Federal. Foi o Dia de Luto. A greve era reconhecidamente justa e pacífica. Todos esperavam outra postura daquela gestão composta pelos quadros do próprio Datasus, como por exemplo a ajuda na intremediação das negociações. Após este episódio os servidores se desenganaram completamente. Para o Datasus foi um dos períodos mais negativos da sua história.

O Dia de Luto

Trecho da matéria no Vozativa

“No dia 28 de junho de 2007, o Datasus viveu uma das cenas mais lamentáveis da sua história. A Polícia Federal foi chamada para fazer entrarem os contratados. Foi uma frustração e constrangimento geral. Os servidores ficaram indignados. No hall dos elevadores do oitavo andar vários terceirizados informaram que não estavam querendo furar a greve mas estavam sendo pressionados. Outros se sentiram tão constrangidos que mesmo assim não entraram. Não é nem um pouco agradável entrar para trabalhar através de uma ação policial, quando o clima da greve era o mais pacífico possível.”

Depoimento de uma colega de trabalho

“Como foi muito bem dito por um dirigente sindical ninguém estava ali para bater. Nem para apanhar. Mas, justificou-se, não sei como, a solicitação da presença da Polícia Federal, com homens armados para garantir a entrada dos contratados. Este momento foi profundamente triste.

Insistindo comigo mesma numa postura imparcial, vi colegas contratados com os quais convivo diariamente, passarem por nós de cabeça baixa e testa franzida. Alguns servidores batiam palmas irônica e nervosamente, outros não sabiam o que fazer. Percebi que se sentiam desconfortáveis com tal constrangimento para ambos os lados. A Policia Federal impunha o afastamento dos servidores e contratados passavam por um estreito corredor formado por servidores.”

Habilidade

Há alguns anos antes, quando o Datasus ainda ficava em Botafogo, fizemos um movimento, por também justas reivindicações. O diretor daquele período foi ao secretário executivo para intermediar a negociação. O secretário executivo veio ao Rio de Janeiro, sentou-se com os representantes dos servidores, viu que as reivindicações eram justas e encaminhou imediatamente a solução daquelas reivindicações. O inteligente secretário sabia que esta era a melhor tática para resolver logo os problemas e tocar a instituição com o apoio dos servidores. Para ele, fazer o Datasus funcionar foi mais importante que ingenuamente imaginar que a investidura do seu cargo fosse suficiente para exercer seu poder. O maior poder é o da negociação, que mantém a dignidade de todos. Ele não saiu fraco desta negociação, muito pelo contrário.

Contratações indevidas

Após a última greve, o Datasus passou por uma das piores gestões. Empreguismo, contratos estourados, nomeação para atender favores, falta de diálogo e inexperiência para gerenciar projetos enfraqueceram a instituição. As contratações de técnicos sem o perfil exigido pelo objetivo do contrato com a CTIS prejudicou em muito o desenvolvimento de sistemas. Resultado: Datasus inchado, com grande perspectiva de ser desmoralizado diante da opinião pública.

Parte deste empreguismo foi realizado no Rio de Janeiro e outra no Distrito Federal. Se com a estrutura atual da máquina pública estas nomeações são possíveis, imaginem em uma fundação estatal onde os funcionários são regidos pela CLT. A cada governo a renovação do quadro de funcionários, tal qual no início da república e antes dos moralizantes concursos públicos. Tanto no RJ quanto no DF o Datasus se tornou a verdadeira mansão da mãe Joana, ou melhor, o senado da mãe Joana.

Abandono e frustração

As Regionais continuaram abandonadas e mal coordenadas. Investimento zero, profissionais desvalorizados, falta de dinheiro até para deslocamento dentro do próprio estado. As Regionais do Datasus são verdadeiros heróis da resistência, conseguindo tirar leite de pedra e andar pelo deserto sem água.

De frustração em frustração a última foi a despedida do diretor anterior, que afirmou que havia solicitado à secretária executiva a sua substituição.

Demissões inevitáveis

Inchado, com um tumor maligno em suas costas, o Datasus estava correndo um risco enorme de ter que colocar à disposição praticamente todos os contratados da CTIS em novembro de 2009. Pelas contas da gestão anterior, mais de cinqüenta contratados seriam demitidos!

Coube a atual gestão do Datasus ficar com o mico preto para fazer os cortes que foram realizados a partir das listas criadas pelos gerentes e chefes de equipes. É importante deixar claro quem fez as escolhas, mesmo sendo eventualmente as de Sofia. Com isto alguns bons profissionais foram colocados em disponibilidade e injustiçados.

Renovação necessária

Os servidores do Datasus estiveram por um bom tempo com a cabeça baixa, desanimados e sem esperanças. Dá para entender, mas não é nem um pouco saudável para a instituição nem para cada indivíduo. O melhor para a saúde de cada um e do Datasus é a vontade de mudar, a busca pela dignidade individual e o compromisso com a máquina pública.

Durante os últimos dois anos ouvi dos colegas as reclamações que descrevi nesta matéria. O Datasus precisa mudar, não só as pessoas que comandam, mas principalmente os paradigmas. Não temos a estabilidade para simplesmente garantirmos os nossos empregos. A estabilidade é necessária para a manutenção da máquina pública, para nos contrapormos a politicagens de grupelhos que sugam o sangue nas veias do estado, garantirmos a continuidade dos projetos e construirmos políticas de estado.

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