O preço do terno do Lula

Vozativa edição 104 – 20 de setembro de 2004

Uma das maiores ironias políticas é você ter uma proposta que outro vem, se apropria e a leva mais adiante que você. Pior ainda quando este que leva sua proposta adiante é seu adversário. Neste caso, sua proposta, ou sua bandeira, foi roubada. Pode ser que você tenha elaborado mal a sua proposta ou talvez você não consiga levar adiante a sua bandeira. Sempre há muito a aprender. O melhor é vestir as sandálias da humildade, reconhecer os méritos de quem conseguiu concretizar a proposta, fazer autocrítica, enfim… repensar.

O Brasil sempre enfrentou problemas econômicos. Dizem que um ano após os portugueses chegarem ao Brasil, a crise econômica já estava instalada, mas um economista da corte sossegou a todos dizendo que era passageira e que ele tinha um plano para acabar com ela…

Ao longo da história capitalista brasileira, a elite dominante tentou hipocritamente acabar com a inflação e não conseguiu. Falo hipocritamente, pois a inflação sempre foi utilizada para roubar os mais desprotegidos. Esta conversa de que a inflação corrói os salários é meia verdade.

A inflação retira poder de compra dos salários dos desprotegidos em favor da elite e suas empresas.

Nenhum plano feito pela elite deu resultado, é claro. Todo mundo lembra dos planos que duravam um ano, o suficiente para se ganhar uma eleição. A propaganda da elite ameaçava a população com uma esquerda que não saberia administrar a economia, levando o país ao caos e a anarquia. Então seríamos dominados pelos soviéticos ou cubanos (sem direito à salsa ou charutos). Passada a eleição, a crise voltava e a inflação cumpria seu papel.

É impossível não reconhecer que foi exatamente um governo de esquerda que conseguiu dominar a inflação de tal forma que, pela primeira vez na história recente, o Brasil está começando a crescer de forma sustentável.

O Brasil lançou-se aos negócios internacionais sem subserviência, tendo aumentado de forma extraordinária as suas exportações, capitalizando o país. Graças a estas capitalizações o Brasil vem pagando a dívida externa sem pedir mais emprestado, o que coloca o Brasil em uma posição mais favorável para impedir ingerências do FMI. Vale lembrar que o Brasil optou, desde o início da ditadura militar por tentar crescer se endividando.

Ou seja, pegava dinheiro para tentar fazer algum negócio lucrativo e devolver o emprestado.

Só que o Brasil nunca fez estes negócios lucrativos. É difícil fazer negócios com quem empresta dinheiro para você. Quem afirmou isto, há poucos dias,  foi o senador Delfin Neto, fazendo autocrítica durante uma sessão com o Ministro Guido Mantega, transmitida pela TV Senado.

O governo atual optou por pagar a dívida, não pedir mais dinheiro emprestado e aumentar suas parcerias comerciais.

Neste sentido nunca houve um presidente que tivesse tanta credibilidade quanto  o Lula, assim como o reconhecimento nacional e internacional como bom negociador.

Os setores que hoje estão na oposição e que sempre representaram a elite brasileira, estão se sentindo despersonalizados. Afinal o governo dominou a inflação, está fazendo o país crescer, a atividade industrial vem crescendo, mais de um milhão de empregos foram criados recentemente.

Ou seja, a direita ficou sem bandeiras. Em algumas votações, a direita tentou passar a ilusão de que é a favor de um salário mínimo maior, de maiores benefícios para os aposentados. Acabaram ficando com a mesma falta de credibilidade de quando eram governantes e nada faziam.

Não haverá mais eleições onde promessas românticas ou mal intencionadas venham convencer uma população ingênua. O atual governo está vendo que não era tão fácil assim modificar um país tão complexo como o Brasil. Mas também está mostrando que, com vontade política, poderemos transferir de volta, da elite e de suas empresas, o que foi retirado ao longo de todos estes anos dos salários dos mais desprotegidos.

Nestes períodos de falta de identidade, a oposição e parte da imprensa que a apóia, têm que se dedicar à baixa política, tentando focar  assuntos irrelevantes e muitas vezes preconceituosos.

Não havendo política para se contrapor, resta apenas à oposição  discutir qual o carro do Lula, se ele fuma charutos, se bebe vinhos franceses e assim por diante. É o jeito…