A grande confusão da percepção

Lendo os diversos textos, nesta discussão sobre pintura, filosofia, linguagem das palavras, conceitos etc., venho dar minha contribuição à discussão, do meu ponto de vista que é mais focado na física e na filosofia.

A maior confusão desta discussão está na cilada de questionar a linguagem das palavras quando ela se refere às percepções, através da linguagem das palavras. Acaba se tornando uma meta-análise de linguagem das palavras, através dela mesma. Vejo muita poesia nos textos que falam das artes plásticas. A cilada laçou o artista plástico com as palavras, ao tentar explicar a sua obra e dos outros…

Então, qual caminho deveríamos trilhar? Nenhum. Engatinhamos no construir do nosso caminho, ainda vaidoso e ingênuo. Vamos entender as palavras e percepções, pois uma influenciará a outra, mas não conseguirão se integrar totalmente, além de que não chegaremos a nenhuma conclusão que não estivermos dispostos a encontrar.

A realidade é intangível, nunca poderemos conhecê-la. Pelas nossas projeções entramos em contato com suas diversas Ordens. A compreensão das Ordens é importante para compreendermos os limites dos nossos contatos com a realidade. Ordens não são dimensões (às vezes confundimos as duas), mas maneiras distintas de existir. Por exemplo, a dor e a explicação dela. Impossível explicarmos a dor. Usamos, por exemplo, a linguagem das palavras para nos referirmos a ela, mas quem nunca sentiu a dor não conseguirá entender. A linguagem das palavras é de uma ordem diferente da sensação da dor.

Da mesma forma sensação visual é de uma ordem diferente da linguagem das palavras e isto não quer dizer que quando falamos à respeito de uma outra Ordem estaremos aprisionando-a. Estaremos apenas tentando nos referir a ela dentro dos seus limites de cada Ordem.

A Teoria da Incerteza, de Heisemberg, nos ensina que quando estamos na experiência de uma Ordem não teremos a chance de experimentar outra, mas apenas nos referenciarmos a esta outra. Cabe à nossa maturidade perceber esta limitação, nos divertirmos e evoluirmos com ela.

O saber do olho é apenas do olho e das palavras apenas das palavras. Com as palavras não conseguiremos experimentar o saber do olho, nem com o olho poderemos experimentar o saber das palavras. Nós somos um aparelho desenvolvido a partir de aparelhos maiores e com mais tempo de existência. Não conhecemos nenhum dos dois e por isto voltamos à situação da incerteza.

O físico David Bohn parte do princípio que o ser humano tem duas experiências marcantes: a transcendente e a imanente. Ele chama de transcendente a experiência que se apoia em observações e conclusões. E de imanente a experiência onde concluímos com nossos mecanismos mais gerais de percepção. Um homem do campo, muitas vezes sabe que vai chover, mas não consegue explicar como ele percebe. E não precisa de todo este instrumental teórico e prático dados pela informação que foi concluída por estudos e experimentos. Para David Bohn a experiência imanente antecede a experiência transcendente. Ele afirma que, mesmo nos seus trabalhos científicos, ele já sabe o que quer encontrar, mesmo não tendo esta clareza ao longo das suas pesquisas.

Então, quando estamos no campo das artes, também estaremos utilizando as duas experiências em várias Ordens. E por sabermos apenas que as cores são variações dos comprimentos de onda da luz, nunca teremos certeza do que estamos vendo. Dependendo da distância, a cor é outra. Os astrônomos já sabem disto, já que, ao se aproximarem mais dos objetos que há anos observam, perceberam uma notável mudança de cor.

As cores somos nós!

Leon Ayres

14 de junho de 2015