Vozativa edição 90 – 12 de setembro de 2003
Esta frase, do Nelson Rodrigues, que pode parecer ingênua e óbvia, traz consigo uma observação bastante perspicaz e madura.
Desde a antiguidade, os conquistadores vêm enfrentando uma batalha mais dura que aquelas onde tiveram que empunhar armas e arriscar as próprias vidas: a administração do dia-a-dia do povo que haviam subjugado. Uma coisa é você tomar um país à força, e outra é manter-se no controle da situação.
Átila conquistou quase toda a Europa, mas sucumbiu quando teve que gerir o que tinha conquistado. Átila tinha as armas, mas a Igreja tinha uma estrutura político-administrativa capaz de captar e gerir finanças, além de ter um fórum privilegiado (os templos) onde seus sacerdotes falavam para seus fiéis com toda a credibilidade que eles mesmos conquistaram ao longo dos séculos. O que acabou com o Rei dos Unos foi a sua incapacidade de gerir o dia-a-dia.
Quem olhar para o Iraque, neste momento, também verá o país mais rico do mundo, a maior potência militar do mundo, com a maior impunidade do mundo, com a maior tecnologia moderna do mundo, passar o maior sufoco para lidar com o dia-a-dia de um povo, que atualmente é um dos mais pobres do mundo. No Afeganistão, que é mais pobre que o Iraque, o dia-a-dia também já desgastou e desmoralizou as tropas americanas.
Os socialistas também já erraram bastante, só que com uma característica específica. No afã da tomada do poder, muitos socialistas avançaram para posições que depois não conseguiram sustentar. O momento seguinte, muitas vezes, foi de grande retrocesso. “Aprender para depois transformar” é uma máxima, muito útil como vacina contra o esquerdismo que ainda inebria os ingênuos na sua proximidade com o poder.
Nada como um dia após o outro…