Vozativa edição 74 – 24 de fevereiro de 2003
Ninguém em sã consciência poderia ser contra a integração dos sistemas que o Datasus desenvolve para o Sistema Único de Saúde. Há muito tempo, está claro para todos que precisávamos fazer esta integração. Todos sabemos que os diversos sistemas que desenvolvemos têm rotinas duplicadas, têm entradas de dados duplicadas e que os mesmos dados são digitados diversas vezes. Mas se todos sabemos, por que não saíamos do mesmo lugar?
Por várias razões, mas uma delas é muito significativa: a falta de investimentos. O Datasus sempre amargou uma verdadeira “inanição” por causa do seu parco orçamento.
Mas não adianta só ter orçamento. Também é necessário saber executá-lo com competência. Durante a última administração, o Datasus recebeu dezenas de milhões de reais em investimentos. Contratou empresas para desenvolver os sistemas e uma única empresa de aluguel de profissionais, a CTIS, para completar o quadro funcional que também era pequeno diante das necessidades.
Ao final, estamos vendo funcionários fazendo o mesmo que os contratados, só que ganhando a metade … o que gera uma tremenda insatisfação, inclusive porque o direito de ir e vir dos funcionários e dos contratados não é o mesmo. Nada contra as pessoas que foram alugadas pela CTIS. Elas são profissionais e estão lutando pelas sua sobrevivência e muitos estão nos ajudando bastante. O problema é de gestão que acabou gerando uma indigestão, pois ninguém consegue engolir.
Há algum tempo atrás, estava conversando com um amigo no Datasus. Eu estava preocupado porque os nossos sistemas estavam sendo desenvolvidos por empresas particulares. O amigo então me respondeu: “eles não vão saber fazer …”.
Não sei se esta afirmação é verdadeira e se for, se ela se aplica a todas as empresas que receberam estes milhões de reais. Mas vale a pena averiguar o que realmente aconteceu, pois a direção anterior, tristemente, não prestou contas dos resultados obtidos em sua administração.
É bom fazermos esta avaliação para que não erremos novamente no futuro, porque os milhões de reais que já foram pagos, não os teremos de volta.
Reorganizar o Datasus
Outro problema significativo, ainda é, o tipo de organização do Datasus. Nossa estrutura reflete a organização dos programas do Ministério da Saúde. Um hábito herdado da Dataprev. Notadamente nos organizamos em torno dos programas que politicamente possam nos trazer benefícios, sejam pessoais ou institucionais. Se você está em um projeto cujos interesses são importantes, você está bem, com chances de conhecer alguém forte politicamente que possa contar com toda a sua boa vontade. Se o projeto for realmente muito importante, o Datasus deverá criar uma gerência ou coordenação para demonstrar a exclusividade dos seus esforços e da mesma forma também tentará alianças com quem possa ajudar a instituição. Mas não é assim que as coisas funcionam? Sim, mas este é um dos motivos pelo qual o Datasus é tão vulnerável às mudanças políticas. Quando muda é um Deus nos acuda!
Se o Datasus quiser se modernizar, terá que rever sua estrutura organizacional, assim como criar novos paradigmas para gerenciamento e desenvolvimento de sistemas.