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“Evidências não são provas, mas suspeitas.
Tudo confirma aquilo que acreditamos.”
A observação e a medição
Hipóteses serão sempre hipóteses até que sejam confirmadas ou rejeitadas através de nossas observações e experimentos. A nossa imaginação é a alavanca que pode transformar a visão imaginária em uma visão próxima do real, que nunca será totalmente atingida. A realidade é intangível, nunca teremos um contato pleno com ela, pois somos seres limitados com parcos recursos de interação e que nunca permitirão que a encontremos plenamente.
A nossa visão de mundo é determinada pelo que podemos ver e medir. Aprendemos que temos apenas cinco sentidos e com eles experimentamos alguns tipos de medição que sempre nos revelam ilusões. Somos sempre surpreendidos por ilusões de ótica, auditivas, táteis, gustativas e olfativas. Há uma inteligente frase popular que diz “não acredite em nada que você ouve e metade do que você vê”. É uma dose de humildade que nos leva a questionar nossos cinco sentidos como instrumentos de medição mais rudimentares. A neurolinguística já compreende que temos pelo menos mais dezesseis outros sentidos, dentre eles o de equilíbrio e da distância, por exemplo. São sentidos mais complexos porque utilizam combinações dos cinco sentidos, mais as experiências do aparelho psíquico.
Ciência e Crença
Por trás da ciência há sempre uma crença que nos leva a utilizar instrumentos de medição a partir de paradigmas filosóficos. Nos primórdios, a ciência tinha como base a visão da causa original da(s) Divindade(s). No monoteísmo, por exemplo, tudo vem de Deus e tudo faz parte dessa realidade divina. O mundo é de Sua criação e todos os fenômenos que dela possam advir. Todas as observações e experimentos comprovavam esta fenomenologia e toda a heurística conseguiu intervir na realidade e permitir inovações e evoluções tecnocientíficas.
A Terra já foi o centro do universo. Durante este período todos os astrônomos e matemáticos se utilizavam deste conceito para mostrar uma realidade que, como sempre, era cientificamente comprovada. Através de cálculos precisos os navegadores chegavam exatamente onde queriam. A medição do tempo, os processos agrícolas e outras atividades humanas eram regulados por esta ciência comprovada, que permitia um grande domínio sobre a realidade. Por trás desta ciência havia uma visão filosófica de Aristóteles. Tudo parecia estar corretamente observado e medido. Havia evidências e heurísticas que comprovavam o modelo científico.
Copérnico propôs algumas alternativas ao modelo geocêntrico, pois havia pesquisado filósofos que haviam sido descartados pela Grécia Antiga. Platão, Aristóteles, Pitágoras e outros filósofos religiosos foram decisivos para o descrédito de antigos pensadores Sofistas e filósofos pré-socráticos, que eram relativistas, matemáticos e observadores do universo. Copérnico para chegar às suas conclusões se contrapôs de um aparato filosófico religioso de cerca de 1.500 anos que também demostrava cientificamente os fenômenos através da observação e medição regular da realidade. Pagou um preço caro por isto.
A filosofia vem para justificar nossos atos e é determinante na formação científica
Sócrates e Platão
Sócrates e Platão eram religiosos e aristocráticos. Por isto tinham uma visão absoluta da realidade. Eles vieram para cumprir o papel de “serial killers” dos Sofistas que eram pensadores relativistas. Até hoje o termo “sofisma” traz consigo a ideia de um pensamento falso ou enganador.
Os Sofistas eram contratados pelas famílias mais ricas, e políticos, para serem formadores dos seus filhos, ensinando-lhes a arte de pensar e criar, assim como aprimorar suas técnicas de oratória. Sócrates entrou na concorrência e desembainhou sua espada contra estes filósofos, abrindo espaço para Platão. Sócrates com sua hábil técnica de questionamento enfrentou os pensadores Sofistas. Usou o próprio relativismo e um pouco de aporia para diluir o pensamento relativista dels. Platão trouxe uma nova corrente filosófica, aristocrática, para justificar a estrutura de classe daquela democracia dos “homens livres”.

O trabalho não enobrece o ser humano
Só após o desenvolvimento do protestantismo e da revolução industrial, o trabalho se tornou uma atividade nobre. Antes só as “classes inferiores” faziam o trabalho. Os nobres e “homens livres” se dedicavam ao ócio criativo, ao pensamento, à filosofia e a apreciação do belo.
Platão divide o conhecimento em dois níveis. No nível inferior encontram-se as classes inferiores, com seu mundo de crenças e ilusões através da observação da realidade através de suas sensibilidades e ilusões (sombras). No nível superior encontram-se a ciência e o que ele denomina de ideias. Este é o nível dos “homens livres”. Platão cria em sua estrutura um objetivo mais elevado, o Bem, onde o “homem livre” encontra-se com o divino, quase como uma hierocracia.
O Mito da Caverna é uma construção de idealidade dos “homens livres”. É um pensamento preconceituoso e classista que ganhou a aristocracia, justificando suas práticas político-econômicas. Observando a realidade o Mito da Caverno ajudou a mostrar as evidências do desenvolvimento do conhecimento humano, a base de uma ciência que até hoje praticamos.
A filosofia platônica usou seus paradigmas para fazer suas observações, mostrar evidências e desenvolver sua heurística.
Aristóteles
Aristóteles realiza uma espécie de unificação dos 2 mundos platônicos, cabendo à filosofia não mais a tarefa de libertar os seres humanos das correntes da ignorância e do erro oriundo dos sentidos, mas o papel de diferenciar aquilo que é essencial do que é acidental nas coisas. Nasce em Aristóteles uma visão diferenciada, essencialista e qualitativa da realidade. O que era religioso passa a ter um caráter científico. A mulher, que antes havia nascido da costela de Adão, neste momento tem uma análise científica das suas “precariedades”. Enquanto a alma do homem levava duas semanas para se estabelecer no corpo, a da mulher demorava quatro.
Aristóteles apesar de dar uma concepção material das coisas, religioso assim como Platão, mostra o Bem como causa final de tudo, vinculando a existência aristocrática com um caráter divino.
E toda a ciência se baseou nestes fundamentos filosóficos e instrumentalizou a observação das evidências, até Copérnico.
Em Aristóteles a ciência baseada na sua filosofia observou as evidências e se comprovou.
Descartes
Descartes duvida de tudo, até das verdades matemáticas (“meus sentidos me enganam, o gênio maligno talvez se divirta comigo com relação às evidências matemáticas.”). Descartes, apesar de se basear em observações matemáticas, duvida, pois afirma que duvidar é pensar! Ele propicia o nascimento do Idealismo Moderno onde a filosofia explica o mundo a partir do sujeito pensante. O “ser” (existir) é a dimensão da sua própria investigação. Se penso, então existe um pensamento. Para pensar é preciso ser. Eu penso, logo existo. A palavra “logo” é a chave para a solução deste silogismo. É ela que indica que trata-se de um raciocínio. Descartes considera que raciocínio faz parte de uma intuição continuada. A evidência é a recompensa pelo esforço da dúvida.
O Positivismo
Augusto Comte, professor e filósofo, criou o termo Positivismo e dedicou a sua vida a estudos que tinham como objetivo observar o Universo a partir dos três estados evolutivos da compreensão humana.
O primeiro estado seria o Teológico que explicaria os fenômenos naturais a partir das vontades de entidade(s) divina(s). O segundo seria o Metafísico, onde o ser humano projeta sua própria psicologia para a natureza de forma antropomórfica. E por fim o estado Positivo onde o ser humano renuncia ao entendimento da causa final e dos motivos da existência. É a base do nosso atual pensamento científico, onde a fenomenologia esgota a curiosidade da investigação.
O positivismo é uma linha filosófica que se desenvolveu bastante entre meados dos Séculos XIX e XX. Ele foi muito importante na tentativa de ruptura com modelos mais religiosos. A compreensão fenomenológica deu novos ares aos modelos científicos e permitiu que outras disciplinas também fossem incluídas no rol das ciências. Criou a sociologia como a maior de todas. Mas esta ruptura com a religião não foi tão definitiva. Também criaram uma igreja, a Igreja Positivista, e o seu lema: “Ordem, Progresso e Amor”. Ordem, por afirmar que o universo é estruturado; Progresso, porque observa que as coisas estão em contínuo processo de mudança; e Amor, contradizendo o próprio estado Positivo, a causa final da existência. O amor, que antes era divino, passou a ser um elemento científico. Na nossa bandeira há apenas as duas primeiras afirmativas, mas que adquiriram significados diferentes. O Brasil sempre foi um grande bastião do positivismo.
O método científico positivista baseia-se na observação fenomenológica, tentando reproduzir construções mais gerais do universo em constructos resultantes de experiências em laboratórios. Desta forma as evidências são observadas a partir de um modelo laboratorial parcial, descontextualizado. Mas são consideradas evidências científicas e muitas vezes incontestáveis.
Este modelo baliza o método científico atual, pois o positivismo ainda é a filosofia predominante. Como afirma o Professor Leandro Karnal: “o positivismo morreu, mas o seu cadáver ainda cheira na academia”.
O Idealismo Alemão
Georg Wilhelm Friedrich Hegel traz contribuições para a compreensão da realidade, um pouco diferente do Idealismo Moderno de Descartes. Seu pensamento influenciou vários filósofos e contribuiu para a reformulação das análises históricas e políticas.
O sistema hegeliano não é fácil de ser compreendido e frequentemente distorcido. Aprendemos que neste sistema há três momentos: tese, antítese e síntese. Mas Hegel nunca afirmou isto em sua obra! Há, nos meios acadêmicos, uma tentativa errada de entendimento de Hegel por utilizarem viciados métodos de simplificação conceitual. Os grandes estudiosos do filósofo afirmam que estes três momentos não fazem parte de sua filosofia.
Hegel entende a fenomenologia como fazendo parte de um todo, de uma realidade única e infinita. Esta realidade infinita rege todos os acontecimentos de seus elementos de uma forma ideal e inteligível. Para Hegel “todo o real é racional”, é “Ideia”. Esta é a compreensão Idealista.
Hegel trouxe a compreensão de uma dialética que afirma que o ser não é composto apenas de si mesmo, mas também do seu oposto. Desta forma a ideia de que um oposto seria uma contradição passa a ser entendida como um complemento necessário ao movimento e ao “vir a ser”. Hegel resgata uma visão filosófica que afirma que um ser tem sempre uma potencialidade de vir a ser outro.
Desta forma a observação de um ser não pode levar em conta apenas aquela existência momentânea. Também deve levar em consideração a suas potencialidades e processos de mudança. Tal método de observação também deve ser aplicado ao próprio observador. Para Hegel as evidências são temporais, podem ser modificadas ao longo do desenvolvimento do observado e do observador.
O Materialismo Dialético
O Materialismo Dialético não nasce, mas se desenvolve bastante com Carl Marx, um discípulo de Hegel. Marx e Engels faziam parte dos Hegelianos Revolucionários. Mas a partir das publicações sobre o Materialismo do filósofo Feuerbach, Marx desenvolveu novos conceitos que denominou Materialismo Dialético.
A dialética desta linha filosófica é diferente e se contrapõe à dialética hegeliana, pois afirma que o ambiente modifica os seres e os seres modificam o ambiente. Não há uma causa inicial ou final, mas um desenvolvimento interativo que flui a existência. O fenômeno guia e altera o ser que guia e altera o fenômeno.
Uma faceta importante do Materialismo Dialético é ver que as coisas só se desenvolvem se existirem condições favoráveis para o seu afloramento e que durante este período, de ascensão, já são criadas as condições para o declínio desta mesma existência. Com isto, segundo o Materialismo Dialético, poderemos entender o ciclo de nascimento e morte dos seres e dos diversos sistemas. O Materialismo Dialético, como instrumento de observação, permitiu observar e influenciar a própria história. Na formação e crescimento dos grandes impérios já residiam os elementos capazes de leva-los à sua própria destruição. Surge um entendimento de que a filosofia passa a ser instrumento de mudança através da prática, através da concepção desta nova dialética. Neste sentido Marx conclama a todos para serem donos da sua própria história, modificando as condições para as mudanças, permitindo que sejamos agentes do nosso destino e não apenas observadores do desenvolvimento natural dos sistemas políticos e econômicos.
O Materialismo Dialético abre um campo novo para o desenvolvimento das ciências, indo além da análise fenomenológica. O observador e o objeto observado se modificam o tempo todo como uma espiral que forma ciclos que passam pelos mesmos pontos, mas a cada passagem estão diferentes em qualidade (qualidade para o Materialismo Dialético significa alteração da composição de um ser). Cada vez que uma existência (um ser ou mesmo um mecanismo) passa por um ciclo terá ganhado mais elementos e mais experiências. É uma visão não linear do desenvolvimento.
É uma abordagem mais complexa porque não deixa de lado as complexidades dos seres e dos sistemas que estão interagindo. O Materialismo Dialético pressupõe uma eterna dúvida, mas traz a possibilidade de uma previsibilidade sem recorrer à simplificação que é uma tendência da ciência.
Observação e evidência se confundem no método.
De volta ao futuro
Carl Sagan, escritor e cientista, nutriu uma grande raiva por filósofos como Platão, Aristóteles, Pitágoras e outros, por terem propiciado um grande atraso à ciência. Para ele, os filósofos pré-socráticos já observavam o Cosmos com muito mais precisão do que todos os seus sucessores, exatamente por suas visões relativistas, que propiciavam maiores dúvidas e maiores perspectivas de observação da realidade. Os filósofos religiosos tem uma visão mais absolutizadora da realidade, com mais certezas e consequentemente com mais restrições de observação e análise.
Trabalhar na incerteza é praticar esporte radical na ciência. Você tem que correr riscos, mas através deles você entra em contato com fragmentos da realidade que você não havia imaginado antes. Por isto, o medo do risco vai fazer com que muitos se tornem receosos e busquem o tradicionalismo como fonte de certeza. O método científico ainda é positivista e deve ser questionado para que possamos observar e medir melhor. Não devemos abandoná-lo, mas usá-lo com desconfiança. Se o método científico não fosse questionado ainda estaríamos, com evidências, vendo o Sol orbitar em torno da Terra.
O que é ciência?
A literatura tem uma infinidade de conceituações e discussões sobre o que é ciência, mas vi uma professora fazer um exercício muito simples e interessante sobre o tema.
A professora distribuiu para os seus alunos algumas caixas fechadas com alguns objetos dentro. O objetivo era que cada um descobrisse quais objetos estavam dentro de cada caixa. Os alunos balançavam as caixas e a partir dos sons e pesos dos objetos tentavam descobrir. Pareciam bolinhas, borrachas, clipes, canetas etc. Ao final da experiência, não importaram os erros e acertos. O importante foi entender que aquela era a compreensão das dificuldades da pesquisa científica.
Fazer ciência é observar no escuro e tentar descobrir o que há lá dentro, tendo como referência os objetos conhecidos. Tudo pode nos confundir, pois um objeto dentro da caixa pode parecer com diversos que conhecemos.
Para fazer ciência através da inevitável comparação com objetos conhecidos precisamos ter domínio sobre os objetos conhecidos. E nunca teremos esta completude de conhecimento. Vemos inicialmente os objetos com os nossos sentidos. Mas estes nos enganam. Dependendo do onde estivermos os nossos sentidos nos darão apenas parte da informação de um determinado objeto.
Dependendo da distância que estivermos de um objeto a cor que vemos será diferente. Sabe-se que dependendo da distância de uma estrela ela parecerá mais amarelada ou alaranjada. O som da ambulância, antes de ela passar por nós será diferente após ela passar. Qual é a verdadeira cor e o verdadeiro som? Todos e mais aquilo que não vemos nem escutamos.
A matemática nos ajuda a enxergar. Se ela não for ingênua. A matemática aplicada dos físicos é mais maliciosa que a matemática financeira. Por isto, inclusive, que alguns bancos e instituições financeiras contrataram físicos para ajudar com a matemática aplicada. A ciência não é mais baseada na simples observação através dos nossos sentidos. A maioria dos astros e partículas que descobrimos não são vistos. E se a matemática muda, o que vimos pode se modificar. Ou seja, a mais exata das ciências nos deixa com incertezas. A ciência deve buscar certezas incertas e estar preparada para mudar de ideia.
E os meus pacientes?
Discutir evidências com profissionais de saúde realmente é complicado. Principalmente quando não se tem a experiência necessária para estar sozinho ou Perdido no Espaço. Deve-se aprender a trabalhar com a incerteza com a ajuda de quem já usa este tipo de paradigma.
Observar um pouco mais o universo de cada fenômeno entre a percepção humana e a física formal poderá nos ajudar a ter uma visão mais ampliada das evidências.
O modelo holográfico
O neurologista Carl H. Pribran se dedicou a um estudo mais aprofundado sobre a nossa percepção em função de um novo paradigma, o holográfico. Um estudo revolucionário que quebra uma série de paradigmas nos quais nos baseamos para observar a realidade.
Ele mostra que uma chapa holográfica que registra um determinado objeto (um carro, por exemplo), se cortada ao meio ainda tornará visível à outra parte faltante. Isto acontece porque todos os registros realizados pelos comprimentos de onda emitidos pela chapa holográfica contém a informação de toda a chapa holográfica. Com menos nitidez, mas mostra.
Para ele o nosso cérebro não registra ou trata as suas experiências em apenas locais especializados, mas em todo ele. Por isto afirma ser possível o próprio cérebro recompor razoavelmente atividades especializadas do cérebro em outras partes, dando a possibilidade de certa recuperação. Amplia-se a fronteira da observação apenas do orgânico e dá margens à compreensão de fenômenos que só são atribuídos aos milagres. Também fornece paradigma para ajudar a compreender a resposta placebo que tem poucos adeptos para este importantíssimo estudo.
Pribran afirma que o modelo holográfico tem implicações nos campos da aprendizagem, meio ambiente, família, artes, cura e autocura. É uma nova abordagem do mundo das aparências e consequente questionamento sobre as evidências. Mais uma incerteza para evoluirmos.
Evidências médicas e sociais
Até pouco tempo atrás, os portadores da Síndrome de Dawn viviam no máximo 35 anos. Hoje chegam aos 70. Parte desta ampliação se deve às intervenções da medicina, mas o que mais ajudou estas pessoas foi a compreensão do sujeito que indicou a sua inserção social através de uma estimulação crescente em uma atmosfera amorosa e uma intervenção mais empenhada na sua educação. Isto ajuda o desenvolvimento e permite que os portadores desta síndrome tenham um tempo de vida mais prolongado e com mais qualidade. Há mais evidências a serem observadas pelos próprios médicos, em aspectos que antes não estariam dentro do seu campo de observação. Uma ampliação da vida pela compreensão e inserção do sujeito. Neste exemplo, as observações e evidências não são medidas por critérios objetivos, mas subjetivos.
A incompletude das evidências
Evidências são o resultado do que acreditamos e não os eventos ou elementos que confirmamos através de um método, seja ele religioso ou científico. Vemos o que queremos numa eterna ilusão de ótica. Até hoje a ciência é predominantemente guiada por desejos religiosos de harmonia do universo, uma harmonia pregada por todos os filósofos que estiveram a favor de uma concepção mística monoteísta. Grandes físicos dizem estar descobrindo a “partícula de Deus” ou o elemento que constrói todo o universo. Ilusões religiosas que estão em pauta há 3.000 anos, mas que levam à criação de métodos científicos. Mas a partícula divina está sempre pregando peças nestes fiéis expedicionários. Cada vez que um elemento é dividido, vários outros surgem, assim como uma infinidade de eventos. Até agora, cada partícula quebrada mostra um universo dentro dela.
Tudo confirma aquilo que acreditamos. Então não sejamos ingênuos nas nossas crenças. Busquemos paradigmas que nos permitam deixar confusos e aí descobriremos mais e aprenderemos mais. Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela, dizia Einstein.
Em toda a história da humanidade as evidências tiveram por trás um sistema filosófico. Fazer ciência é duvidar dela. É duvidar de si e das crenças. Afirmar que algo está provado cientificamente é um ingênuo ato de confirmação filosófica. Nada se sustenta, nada é sólido o suficiente para não se desmanchar no ar.
Escrevi este texto porque não vejo a realidade tão estável e harmoniosa. Harmonia é um conjunto de coisas que se imagina estarem interagindo de forma estável por um período de tempo. Pretensamente tranquiliza… Mas não consigo viver nesta harmonia, ela está parada. A minha inquietude é que me faz tranquilo e me dá a sensação da existência, de movimento e vida, pela própria incompletude.
Não tenho certeza das evidências. Eu e tudo aquilo que observo nos modificamos o tempo todo. Tenho que incessantemente (re)observar e refletir.
Leon Ayres de Mello Pacheco
abril de 2016